sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

IV DOMINGO DO ADVENTO

A anunciação do anjo a Maria




Lc 1,26-38

Meus caros irmãos e irmãs,

Já está próximo o Natal do Senhor e a liturgia da Palavra nos prepara para este momento e convida a meditar a narração do anúncio do Anjo a Maria. O anjo Gabriel revela à Virgem Maria a vontade do Senhor, que Ela se torne Mãe do seu Filho unigênito: “Eis que conceberás e darás à luz um filho, e que lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo!” (Lc 1,31-32).

O texto evangélico começa dizendo que o anjo Gabriel “foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré” (Lc 1,26). Os moradores daquela região eram pagãos, exceção feita a uns poucos israelitas. Nazaré era uma cidade tão insignificante que não é citada nem uma vez no Antigo Testamento. No entanto, ali Cristo seria concebido. Mais tarde Bartolomeu antes de se tornar apóstolo, indagará a Filipe que lhe dizia ter encontrado o Messias, Jesus: “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré da Galileia”? (Jo 1,47).

Havia de fato um enorme preconceito contra os galileus. No entanto, foi na pequena Nazaré, uma aldeia simples, ignorada e sem importância no cenário político da época e à margem dos caminhos de Deus e da salvação, o lugar em que ocorreria a concepção de Jesus.  Nazaré teve a honra de ser o lugar no qual o Verbo de Deus se encarnou. Na pequena cidade de Belém, Jesus nasceria; ao passo que em Jerusalém, a capital, seria condenado, crucificado e morto na cruz.

O relato evangélico continua e identifica Maria como “uma virgem prometida em casamento a um homem chamado José” (Lc 1,27). O casamento hebraico considerava o compromisso matrimonial em duas etapas: havia uma primeira fase, na qual os noivos se prometiam um ao outro: os “esponsais”; só numa segunda fase surgia o compromisso definitivo, a cerimônia do matrimônio. Entre os “esponsais” e o rito do matrimônio, passava um tempo mais ou menos longo, durante o qual qualquer uma das partes podia voltar atrás, ainda que sofrendo alguma penalidade.

Durante os “esponsais”, os noivos não viviam em comum; mas o compromisso que os dois assumiam tinha já um caráter estável, de tal forma que, se surgisse um filho, este era considerado filho legítimo de ambos. A Lei de Moisés considerava a infidelidade da “prometida” como uma ofensa semelhante à infidelidade da esposa (cf. Dt 22,23-27). E a penalidade seria a morte por apedrejamento. José e Maria estavam, portanto, na situação de “prometidos”, pois ainda não tinham celebrado o matrimônio, mas já tinham celebrado os “esponsais”.

Dentro deste contexto, ocorre o anúncio do anjo a Maria, e a primeira palavra usada pelo anjo no momento da anunciação é “chaire”, uma expressão de origem grega, que significa “rejubila, alegra-te”.  Normalmente a saudação entre os judeus era "Shalom", que pode ser traduzida como “paz", enquanto a saudação no mundo grego era "Chaire", ou seja, "alegra-te". É de se admirar que o anjo, ao entrar na casa de Maria, a cumprimente com a saudação dos gregos. Com isto, podemos compreender que com o início do Novo Testamento, a que se referia esta página do Evangelista São Lucas, teve lugar também a abertura para a salvação, à universalidade do Povo de Deus, que incluía não só o povo hebreu, mas também o mundo na sua totalidade, todos os povos. Nesta saudação grega do anjo manifesta-se a nova universalidade do Reino do verdadeiro Filho de Davi (cf. BENTO PP XVI, A infância de Jesus, São Paulo, 2012, p. 30-31).

Usando esta saudação “alegra-te”, podemos dizer que o mensageiro celeste retoma uma expressão já presente no Antigo Testamento, presente no Livro do profeta Sofonias. O profeta Sofonias, inspirado por Deus, diz a Israel: "Alegra-te, filha de Sião; o Senhor está contigo e acolhe-te na sua morada" (Sf 3,16). Com isto, o evangelista São Lucas quer dizer que, no Filho de Maria, se realizaram todas as profecias: a virgem concebeu, como anunciou o profeta Isaías (cf. Is 7,14) e Deus se fez presente como Salvador do seu povo em Maria, identificada como filha de Sion, da qual falou o profeta Sofonias.  E pelo Canto do Magnificat, percebemos que Maria reconhece ser a "filha de Sião", de que o profeta falou, e, portanto, o Senhor tem uma intenção especial para ela, pois foi chamada para ser a mãe do Salvador, a morada de Deus por excelência. Maria é o lugar por excelência do cumprimento das profecias divinas. É nela que a Palavra de Deus se cumpre no sentido mais pleno.

Com este diálogo do anjo Gabriel com Maria, começa realmente o Novo Testamento. Portanto, podemos dizer que a primeira palavra do Novo Testamento é um convite à alegria.  E esta é a grande alegria que o cristianismo anuncia.  Com o convite à alegria tem início um tempo novo.  Esta alegria que a humanidade recebeu, não pode conservá-la somente para si; a alegria deve ser sempre compartilhada, deve ser comunicada. Maria foi imediatamente transmitir a sua alegria à sua prima Isabel. Também nós somos chamados a anunciar a alegria. Este é o verdadeiro compromisso desse tempo litúrgico: levar a alegria aos outros. O verdadeiro presente de Natal é a alegria. Nós podemos transmitir esta alegria de modo simples: com um sorriso, com um bom gesto, com uma pequena ajuda, um perdão.

Na sequência, ao ouvir as palavras do arcanjo Gabriel, Maria ficou a pensar no significado da saudação que lhe havia sido dirigida (cf. Lc 1,29; mas logo em seguida, o anjo dirá: "Não tenhas medo, Maria!" (v. 30). Maria tinha motivo para ter medo, além das circunstâncias legais da época, era grande o peso de carregar o fardo do mundo sobre si mesma, ser a mãe do Rei do Universo, ser a mãe do Filho de Deus! Um peso acima das forças de um ser humano! Mas o anjo tranquiliza Maria dizendo: "Não tenhas medo!” (v. 30).  Com esta expressão do anjo Gabriel também nós recebemos uma valiosa lição: Não precisamos ter medo de receber Jesus neste Natal e de testemunhá-lo a todos.

Neste trecho evangélico, é também significativa a resposta de Maria ao anjo, concluindo o diálogo: "Eis aqui a Serva do Senhor. Faça-se em mim, segundo a tua palavra" (v. 38).  Maria diz "sim" àquela vontade divina e, com isto, abre a porta do mundo a Deus.  Com estas palavras, podemos lembrar da oração do Pai Nosso, onde temos uma expressão semelhante: “Seja feita a vossa vontade”.  Maria deu a cada um de nós o exemplo: Devemos fazer sempre a vontade de Deus.

Esta resposta de Maria precisa ser considerada.  Ela chama a si mesma de “Serva do Senhor”.  O Evangelista São Lucas a havia chamado de “Virgem”, o anjo, de “cheia de graça”; e seus pais, de “Maria”.  O servo depende de seu senhor, da sua vontade.  E Maria, se auto identificou como a Serva do Senhor. A palavra do anjo é uma ordem: “Conceberás e darás à luz”;  que Maria aceita em sinal de obediência e alegria. É também importante notar que o Filho de Deus não se encarnou sem o consentimento daquela que devia ser sua mãe. Este exemplo se aplica aos dois fatores de nossa santificação: A graça de Deus e a cooperação da nossa vontade.

O exemplo da Virgem de Nazaré é para todos nós um convite a acolher com total abertura de espírito o Cristo que vem no Natal, que por amor se faz nosso irmão. Ele vem para trazer a paz ao mundo: “Paz na terra aos homens por Ele amados!” (Lc 2,14), como anunciaram os anjos aos pastores. O dom precioso do Natal é a paz, e Cristo é a nossa paz.

Preparemo-nos para celebrar dignamente o Natal já próximo. Sigamos com Maria e José rumo a Belém. Que os nossos passos caminhem em direção ao Menino Jesus que nasce; e os nossos olhos se abram para que possamos ver e reconhecer o Filho de Deus entre nós e que possamos abrir de par em par as portas do nosso coração para acolhê-lo.  Um feliz Natal a todos!  Assim seja.

D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB

Mosteiro de São Bento/RJ

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

I Pregação de Advento: "Que lugar ocupa Cristo no universo?"



Papa Francisco e seus colaboradores mais próximos participaram na manhã de sexta-feira (15/12) da primeira pregação do Advento 2017, na Capela Redemptoris Mater, no Vaticano. O pregador oficial do Vaticano, o capuchinho Raniero Cantalamessa, é o autor dos sermões semanais, e este teve como tema "Tudo foi criado por Ele e para Ele; Cristo e a criação”.

As meditações do Advento deste ano têm como proposta recolocar a pessoa divina-humana de Cristo no centro dos dois grandes componentes que, em conjunto, constituem "o real", isto é: o cosmos e a história, o espaço e o tempo, a criação e o homem. O objetivo final é colocar Cristo "no centro" de nossa vida pessoal e de nossa visão de mundo, no centro das três virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade.
Cristo e o cosmos, Criação e encarnação
Como primeira meditação, Frei Cantalamessa sugeriu a reflexão sobre o relacionamento entre Cristo e o cosmos. "No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas"  (Gn 1, 1-2).  Segundo ele, esta relação, entre criação e encarnação está bem expressa no Livro do Gênesis e na encíclica Laudato si’.
“É uma questão de saber qual lugar ocupa a pessoa de Cristo em todo o universo”, afirmou, questionando: “Existe, então, algo que nos permita escapar do perigo de fazer de Cristo "um intruso ou uma pessoa deslocada na esmagadora e hostil imensidão do Universo"? Em outras palavras, Cristo tem algo a dizer sobre o problema urgente da ecologia e da salvaguarda da criação, ou isso é totalmente marginal a ele, como um problema que afeta quando muito a teologia, mas não a cristologia?
O Espírito Santo é a força misteriosa que impele a criação para a sua realização. Ele que é “o princípio da criação das coisas”, é também o princípio da sua evolução no tempo. Na verdade, isso não é outra coisa senão a criação que continua. Em outras palavras, o Espírito Santo é aquele que, por sua natureza, tende a fazer a criação passar do caos ao cosmos, a fazer disso algo bonito, limpo: um "mundo" precisamente, de acordo com o significado original desta palavra.
Como Cristo atua na criação
O frei capuchinho levantou ainda uma questão: Cristo tem algo a dizer sobre os problemas práticos que o desafio ecológico coloca para a humanidade e para a Igreja? Em que sentido podemos dizer que Cristo, trabalhando através do seu Espírito, é o elemento-chave para um ecologismo cristão saudável e realista?
“Penso que sim”, respondeu Frei Cantalamessa. “Cristo desempenha um papel decisivo também nos problemas concretos da proteção da criação, mas o faz indiretamente, trabalhando no homem e - através do homem - na criação”. Acontece como no início da criação: Deus cria o mundo e confia a custódia e a salvaguarda ao homem.  
Como agir global e localmente
 Como todas as coisas, também o cuidado da criação tem dois níveis: o nível global e o nível local. Um slogan moderno convida a pensar globalmente, mas agir localmente: Think globally, act locally. Isso quer dizer que a conversão deve começar do indivíduo, isto é, de cada um de nós. Francisco de Assis costumava dizer aos seus frades: "Nunca fui um ladrão de esmolas, pedindo-as ou usando-as além da necessidade. Peguei sempre menos do que eu precisava, para que os outros pobres não fossem privados de sua parte; porque, de outra forma, seria roubar".(14)
Hoje esta regra poderia ter uma aplicação muito útil para o futuro da Terra. Também nós devemos propor-nos: não ser ladrões de recursos, usando-os mais do que o necessário e retirando-os, assim, daqueles que virão depois de nós. Em primeiro lugar, nós que trabalhamos normalmente com o papel, poderíamos tentar não contribuir com o desperdício enorme e desconsiderado que é feito desta matéria-prima, privando assim a mãe terra de uma árvore menos.
Sobriedade e parcimônia, para que todos tenham
O Natal é um forte chamado a esta sobriedade e parcimônia no uso das coisas. Quem nos dá o exemplo é o próprio Criador que, tornando-se homem, se satisfez com um estábulo para nascer. ..”
Todos nós, crentes e não-crentes, somos chamados a comprometer-nos com o ideal da sobriedade e do respeito pela criação, mas nós, cristãos, devemos fazê-lo por uma razão e com uma intenção a mais e diferente. Se o Pai Celestial fez tudo "por meio de Cristo e em vista de Cristo", também nós devemos tentar fazer tudo assim: "por meio de Cristo e em vista de Cristo", isto é, com sua graça e para a sua glória. Também o que fazemos neste dia.
Tradução do original italiano feita por Thácio Siqueira

Abertura do Processo de beatificação de Dona Lurdinha Fontão

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Um depoimento sobre a Serva de Deus D. Lourdinha Fontão
As reuniões e missas no Sitio Brejinho, onde eu morava, começaram por iniciativa de D. Lourdinha, que gostava de evangelizar. 
Como minha mãe fazia toalhas de frivoletê, e D. Lourdinha fazia questão de presentar as pessoas amigas com essas toalhinhas, ela se dispor a ir toda a semana em minha casa para rezar o terço e explicar o Evangelho. Eram as reuniões da Boa Nova.
Logo as missas começaram a ser celebradas pelo então recém ordenado Pe. Orani num rancho perto de minha casa. Era uma alegria preparar o local para as reuniões. Eu tinha escolhido o Pe. Orani como meu padrinho de crisma em 1975, mas como o superior da época achou melhor escolher um leigo, então escolhi o esposo da Lourdinha, pois ela também não podia na época, por ser mulher. 
Comecei a freqüentar a casa dela, onde a Palavra de Deus era sempre a meta. Era muito alegre e disposta. Dizia no início de cada prece da Oração dos Fiéis: "nós te louvamos Jesus e Maria..."; "pelas mães que esperam um filho, pelas mães que desejam um filho...."
Eu nem sabia o que era monge e foi a D. Lourdinha quem me levou a primeira vez ao mosteiro, que ficava a menos de uma quadra das casas de minha avó e tias. Ela também morava há duas quadras do mosteiro.
Comecei a passar os fins de semana com os monges cistercienses. Havia Encontros Vocacionais. Ela chamava carinhosamente os vocacionados e formandos do mosteiro de "meninos do Brasil".
Devo muito à Lourdinha, pois sei que ela me rezou muito pela minha vocação. Até hoje quando estou com sérias dificuldades para resolver vou junto do seu túmulo na Igreja Nossa Senhora de Loreto e peço uma graça. De uma forma ou de outra tudo se encaminha. 
Ela dizia que "para Deus não há coincidência mas Providência".
Ela amou muito a Igreja, a Paróquia e o Mosteiro, e percebo que até hoje intercede por nós. 
Ela procurou fazer da sua familia uma Igreja para que a Igreja fosse uma Familia.
Recordo que em momentos difíceis de minha familia, como a bebida de meu pai, ela sempre dava uma palavra de reconciliação.
Muitos vestidos que minha mãe chegou a usar, foram da Lourdinha, e isso era motivo de honra para minha mãe.
Minha mãe quase todos os dias ou ao menos aos domingos escrevia numa lousa dada pela D. Lourdinha uma frase do Evangelho ou de edificação. Esta lousa ficava na sala de jantar de casa. Um belo quadro da Santa Ceia com moldura de galhos de jaboticabeira que estava nesta sala também era da própria casa da Lourdinha.
A primeira árvore de Natal de minha casa foi a que ela montou numa missa no pátio da cadeia pública celebrada pelo então Pe. Orani. Ela mostrava e vendia os trabalhos artesanais feitos pelos detentos, como canetas, chaveiros, etc.
Os comentários que ela fazia nas missas eram longos, mas sempre no sentido de acolher, animar, chamar á conversão.
Nos aniversários de Dom Orani a Lourdinha enfeitava a estante da Palavra com a flor de São João, que cresce e floresce nos barrancos secos na época do seu natalício, 23 de junho.
Lembro-me que ela arrumava tempo para tudo. Aos sábados, quando ia na sua casa, ela cozinhava, atendia o telefone, colocava a mesa, atendia a porta, tudo com muito gosto. A porta de sua casa estava sempre encostada. Quando alguém chegava ela já ia dizendo: "vai entrando". A mesa redonda estava sempre bem montada, também com bolos e doces.
O relacionamento dela com a familia foi sempre harmonioso. Ainda que saísse muito para as pastorais, o esposo Dr. Heber e os filhos sabiam que ela estava servindo a Deus no próximo. O marido gostava de rádio amador e foi um dos primeiros na cidade a filmar as Semanas da Familia, ordenações. Tudo incentivado por ela.
A Lourdinha fazia junto com o Pe. Orani o "Programa Sinal Verde para você", na Rádio Difusora aos sábados de manhã. Explicava o Evangelho, convidava para os bazares, lia a Palavra de Vida do mês. Depois que ela foi à Itália e viu em Loreto a Madre Teresa de Calcutá, que foi a Lopiano, do Focolare, divulgou com maior entusiasmo o carisma da unidade, a espiritualidade de “Jesus Abandonado”,” Jesus no meio”.
Ela tratava com muita atenção católicos, evangélicos e ateus. Também para eles pedia contribuição mostrando que suas ações pastorais não tinham limites, e que todos podiam ajudar.
Nunca ouvi uma palavra imprópria de sua boca. Mesmo os fatos difíceis eram apresentados com objetividade, mas com sinal de esperança, de uma solução favorável.
Ela tinha uma caligrafia tão bonita. Escrevia nos verso dos santinhos ou marca-páginas os comentários das leituras e as preces, de modo que dava oportunidade para outros lerem nas missas.
Quando chegava já ia falando tudo de uma vez, com um sorriso que quebrava qualquer clima de frieza: "bom dia, boa tarde e boa noite, como vai compadre/comadre?"
Muitos agentes de pastoral que estão em plena atividade na Paróquia ainda hoje dizem que tiveram algo com ela, que convidou a participar da Igreja, que ganhou um livro ou um rosário dela, que pediu que ela rezasse por uma intenção especial.
Conheci nestes últimos meses boa parte de suas agendas, que minuciosamente registram os fatos de cada dia. Não sei como ela arrumava tempo para tanta coisa. Para a maior glória de Deus e não dela, deixou como herança espiritual para seus filhos esses relatos que mostram o essencial na vida dela: dizia que se levantava, rezava, fazia o café, abria a Igreja, rezava o terço com as pessoas, participava da missa, saia para levar a comunhão aos doentes, voltava para casa e seguia sei ritmo normal como mãe de família cristã. Nesses relatos colocava tanta coisa: problemas mundiais, situação política que País estava vivendo, noticias da Igreja em geral, Diocese, Paróquia e Mosteiro. São dezenas de diários, um para cada ano, verdadeira reconstituição dos acontecimentos históricos à luz da fé.
Ela assinava o jornal L' Osservatore Romano. Quantas vezes, me lembro, que ela levava esse jornal e lia nas reuniões, para que as pessoas desfrutassem das noticias e doutrinas da Igreja.
A Lourdinha foi defensora da vida. Teve muitos filhos, sofreu por dois abortos espontâneos. Sempre rezava assim: "pelas mães que esperam um filho, pelas mães que desejam um filho".
Na cidade até hoje é comum as pessoas acrescentarem a cada mistério do rosário a jaculatória por ela muito difundida: "meu Deus, eu creio, adoro e vos amo..."
Nestes últimos tempos um filho começou a digitar suas cartas e mensagens, bens como depoimentos e artigos de jornal dela ou sobre ela. Notei que ela tinha um relacionamento com todo o tipo de pessoas. Temos respostas do papa através de várias cartas da Secretaria de Estado do Vaticano, de cardeais, bispos, padres, religiosos e religiosas, destacando a de muitos monges. Ela escrevia para políticos, empresários, ricos e pobres.
Organizava com Mons. Denizar Coelho e Pe. Orani a Semana da Familia na cidade, fazendo questão de hospedar em sua casa os palestrantes, como Pe. João Mohanna, Pe. Antônio Maria, Pe. Heber Salvador de Lima, entre outros que me lembro agora.
Sua Páscoa foi um susto mas certamente ela intercedeu para que outras pessoas fossem surgindo, cada uma com seu carisma próprio.
O Livro de Tombo da Paróquia São Roque, desde 1968 (ano da criação desta segunda Paróquia da cidade) foi feito cuidadosamente por ela até um dia antes de sua viagem para a Mariápolis em Aparecida em 1988, dias antes de sua morte.
O velório da Lourdinha foi algo de impressionante. milhares de pessoas passaram pelo seu corpo de dia e de noite. Padres rezaram missas de hora em hora, até de madrugada. Dom Tomás Vaquero, Bispo Diocesano, com o qual ela tinha se confessado em Aparecida antes do acidente, era muito amigo dela. Logo ao saber da noticia de sua morte, quis que ela fosse sepultada no presbitério da Igreja Nossa Senhora de Loreto, por ela construída, no Jardim Aeroporto.
Dom Tomás já era idoso mas participou de toda a procissão que saiu da Matriz São Roque até o Loreto, indo a pé por todo o percurso. A missa de exéquias precisou ser campal, pois eram centenas de pessoas presentes. O corpo dela estava dentro da Igreja e se faz uma fila enorme de pessoas para prestar sua última homenagem. Elas entravam por uma porta, costeavam por um cordão de isolamento seu caixão e tinham que sair por outra porta, de tanta gente que estava presente. Os que estavam organizando esta fila precisavam pedir para as pessoas não demorarem, pois ainda pessoas, às centenas, esperavam fora da Igreja para entrarem.
O clima da Comunidade neste última missa celebrada pelo Sr. Bispo era uma mistura de tristeza pela partida mas de alegria pela obra de Deus na vida dela.
Até hoje nesta Igreja, nas missas, se coloca intenções por ela, para que junto de Deus goze da alegria dos justos.
A ausência física da Lourdinha é recompensada pela sensação de que ela junto do Senhor está ainda mais próxima de nós. Isto se comprova com tantos fatos bonitos que aconteceram na Paróquia e no Mosteiro. O Mosteiro começou a ser ampliado, vocações foram chegando, a ponto de monges foram nomeados bispos, um deles inclusive cardeal. A Paróquia foi intensificando sua atuação pastoral.
Na cidade, logo depois de sua páscoa, com a grande comoção popular, foram tomadas muitas iniciativas: artigos de jornal e até uma escola tomou o nome dela como patrona.
A frase que está cunhada em sua lápide é muito significativa, pois foi dada a ela por Chiara Lubich, fundadora do Movimentos dos Focolares.

Que esta possibilidade do Processo de Beatificação e Canonização da Serva de Deus Dona Lourdinha ajude a todos no caminho da vocação universal à santidade.
Na nossa Diocese já temos dois Servos de Deus: um sacerdote (Pe. Donizete) e um religioso (Ir. Roberto), embora não tenham nascido na Diocese. Já a Dona Lordinha é uma leiga, uma mulher, mãe de família, que nasceu no território atual da Diocese, o que muito alegra a Igreja de Deus.
Com isso não queremos idolatrar ninguém, mas apenas possibilitar que sua vida simples e normal seja incentivo para que um número maior de pessoas possam reconhecer o Senhor Jesus Cristo.
Uma Associação Pró-Beatificação está sendo montada. A seu tempo o corpo da Serva de Deus deverá ser exumado e, com procedimentos feitos por peritos do Vaticano, será colocado num sarcófago.
Um Tribunal Diocesano será instituído para que tudo conforme a praxe da Congregação da Causa dos Santos seu processo seja documentado e avaliado.
Depoimentos serão colhidos. Temos muitas pessoas, sobretudo idosas, que já fizeram por escrito. Todas as suas agendas, diários, artigos de jornal, programas radiofônicos, cartas, mensagens deverão ser digitados para posterior verificação e julgamento do Tribunal Diocesano e encaminhamento para a Santa Sé.

Rezemos para que, se for da vontade Deus, tudo se encaminhe bem nas várias etapas a serem cumpridas.

Em Santo Amaro o espetáculo da cavalhada promete se repetir no dia 15 de janeiro.



Expectativas e contagem regressiva. No distrito campista os moradores já começam a se preparar para a Festa de Santo Amaro. E se depender de Miguel Henrique de Carvalho o espetáculo da cavalhada vai repetir o brilho no dia 15 de janeiro. E a garantia que o folguedo de origem portuguesa nunca vai acabar. Para o filho Welligtton Luis Pereira de Carvalho passou o chapéu de capitão dos cristãos que estarão repetindo a batalha com os mouros; Mas para o velho capitão a alegria vem em dobro e o neto Luis Eduardo Ribeiro de Carvalho, 16 anos, já esta se apresentando ao lado do pai. Uma batalha pacifica e que garante que o espetáculo vai continuar pelas próximas décadas.

Reunir roupas, adereços, contabilizar e verificar o material e preparar tudo muito bem com os ensaios que já começaram. No campo as manobras são repetidas e como num bailado os detalhes para o brilho de um dia mais esperado. O que importa é brilhar para atrair para a apresentação com toda a beleza e dignidade de uma batalha que acaba com todos vitoriosos.  Gerações que se encontram no dia da festa do Padroeiro da Baixada Campista. A expectativa é de um público que ultrapassa 100 mil visitantes nos dias festivos.
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- Desde criança assistia as cavalhadas, mas a pela primeira vez que participei foi com 13 anos e só parei em 2015, e passei a meu filho Wellington que é o capitão dos cristãos. Foi uma alegria e emoção e agora meu neto Luiz Eduardo pediu para correr ao lado do pai. E me sinto muito feliz. Saber que a tradição continua. Na minha família dois primos corriam cavalhada; Amaro Constantino e João Palmeira. – conta Miguel Henrique.

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Uma tradição cultural da cidade a cavalhada foi introduzida na festa em Santo Amaro há mais de três séculos. E as apresentações na festa em janeiro atraem turistas de várias partes do Brasil. A TV Sesc Senac já produziu dois documentários nos programas Balaio Brasil e Coleções com exibição em rede nacional de televisão. A comunidade se reúne para a preservação do bem cultural, e mesmo enfrentando as dificuldades financeiras a apresentação acontece com todo brilho.
Dar continuidade a tradição é um desafio para os organizadores da cavalhada. Um trabalho que vem sendo coordenador pelos capitães Wellignton Luis e Joel Rita da Costa. Uma tradição iniciada por volta de 1736, por ocasião da construção da capela primitiva dedicada a Santo Amaro. Segundo relatos foi trazida para o distrito por Antonio Pinto, um dos Sete Capitães. Para o Pesquisador de Cultura Popular, Ricardo Gomes, uma apresentação que resiste ao tempo, mantendo toda originalidade.
- Preservar a cavalhada é preservar um importante patrimônio da cidade de Campos. Um patrimônio que representa a expressão cultural, uma herança da colonização lusa, que com o passar dos séculos se mantém em toda a sua originalidade. E mérito dos moradores do distrito campista. - destaca Ricardo Gomes.
A cavalhada vem sendo realizada desde o século XVII, e a tradição vem sendo mantida pelos moradores. Para o Bispo de Campos, Dom Roberto Francisco Ferreria Paz representa um registro significativo de como nossa região conserva e fez uma recepção criativa da matriz cultural ibérica, que plasmou nas cavalhadas, uma expressão simbólica da reconquista das terras que foram tomadas dos mouros. A Igreja preserva e ao mesmo tempo faz a purificação da memória transformando em exercício eqüestre e artístico o que era conflito bélico acirrado.
- A cavalhada transita pelo diálogo intercultural e inter-religioso, possibilitando a convivência agora pacífica e colaborativa das civilizações, que na Idade Média interagiram de forma antagônica. Hoje, é importante numa cultura cosmopolita valorizar a sua riqueza e diversidade. Amplia nas novas gerações um olhar de compreensão da dinâmica da formação das culturas e da sua complementariedade e influência mútua. Campos têm muito a aprender da matriz cultural-espiritual das cavalhadas que constitui
um bem civilizatório a cuidar e partilhar para viver no respeito e a tolerância as diferenças. – informa Dom Roberto Francisco
Cavalhada, que é um patrimônio imaterial do município e de grande valor cultural para a geração atual e para as gerações futuras. Na opinião do Diretor do Teatro de Bolso, Fernando Rossi compreensão deste patrimônio é importante para a sua preservação. Um legado de gerações que por séculos mantiveram a cavalhada como uma herança cultural que deve ser valorizada pelas novas gerações.
- A gente somente entende a importância cultural quando busca este conhecimento. É preciso reconhecer o esforço dos ascendentes que cuidaram de manter a tradição, bem como estes cavaleiros e capitães mouros e cristãos que ensinam a Cavalhada para seus filhos. Preservar a cultura do nosso povo é manter viva a história dos nossos municípios, do nosso Estado, da nossa gente. – ressalta Fernando Rossi.

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Fotos Genilson Pessanha (Folha da Manhã)

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO A MYANMAR E BANGLADESH (26 DE NOVEMBRO - 2 DE DEZEMBRO DE 2017)









ENCONTRO COM AS AUTORIDADES, COM A SOCIEDADE CIVIL E COM O CORPO DIPLOMÁTICO
DISCURSO DO SANTO PADRE
Palácio Presidencial (Daca)
Quinta-feira, 30 de novembro de 2017


Senhor Presidente,
Ilustres Autoridades de Estado e Civis,
Vossa Eminência, amados Irmãos no Episcopado,
Distintos membros do Corpo Diplomático,
Senhoras e Senhores!

No início da minha presença no Bangladesh, quero agradecer-lhe, Senhor Presidente, o amável convite para visitar esta nação e as suas deferentes palavras de boas-vindas. Seguindo as pegadas de dois dos meus Predecessores, o Papa Paulo VI e o Papa João Paulo II, estou aqui para rezar com os meus irmãos e irmãs católicos e oferecer-lhes uma mensagem de estima e encorajamento. O Bangladesh é um Estado jovem e todavia ocupou sempre um lugar especial no coração dos Papas, que desde o princípio expressaram solidariedade ao seu povo, procurando acompanhá-lo na superação das dificuldades iniciais e apoiando-o na tarefa exigente da construção da nação e do seu desenvolvimento. Agradeço a oportunidade de me dirigir a esta assembleia, que reúne homens e mulheres com responsabilidades especiais na tarefa de dar forma ao futuro da sociedade do Bangladesh.
Durante o voo para chegar aqui, foi-me lembrado que o Bangladesh – «Golden Bengal» – é uma nação interligada por uma vasta rede fluvial e por vias navegáveis, grandes e pequenas. Creio que esta beleza natural é emblemática da vossa particular identidade como povo. O Bangladesh é uma nação que se esforça por alcançar uma unidade de linguagem e cultura com o respeito pelas diferentes tradições e comunidades, que fluem como inúmeros ribeiros vindo enriquecer o grande curso da vida política e social do país.
No mundo de hoje, nenhuma comunidade, nação ou Estado pode sobreviver e progredir no isolamento. Como membros da única família humana, precisamos uns dos outros e estamos dependentes uns dos outros. O Presidente Sheikh Mujibur Rahma compreendeu e procurou incorporar este princípio na Constituição Nacional. Imaginou uma sociedade moderna, pluralista e inclusiva, onde cada pessoa e cada comunidade pudesse viver em liberdade, paz e segurança, respeitando a inata dignidade e igualdade de direitos de todos. O futuro desta jovem democracia e a saúde da sua vida política dependem essencialmente da fidelidade a esta visão fundadora. Com efeito, só através dum diálogo sincero e do respeito pelas legítimas diversidades é que um povo pode reconciliar as divisões, superar perspetivas unilaterais e reconhecer a validade de pontos de vista divergentes. Uma vez que o diálogo autêntico aposta no futuro, ele constrói unidade ao serviço do bem comum e está atento às necessidades de todos os cidadãos, especialmente dos pobres, dos desfavorecidos e daqueles que não têm voz.
Nos meses passados, pôde-se observar de maneira bem tangível o espírito de generosidade e solidariedade – sinais caraterísticos da sociedade do Bangladesh – no seu ímpeto humanitário a favor dos refugiados chegados em massa do Estado de Rakhine, proporcionando-lhes abrigo temporário e provisões para as necessidades primárias da vida. Isto foi conseguido à custa de não pouco sacrifício; e foi realizado também sob o olhar do mundo inteiro. Nenhum de nós pode deixar de estar consciente da gravidade da situação, do custo imenso exigido de sofrimentos humanos e das precárias condições de vida de tantos dos nossos irmãos e irmãs, a maioria dos quais são mulheres e crianças amontoados nos campos de refugiados. É necessário que a comunidade internacional implemente medidas resolutivas face a esta grave crise, não só trabalhando por resolver as questões políticas que levaram à massiva deslocação de pessoas, mas também prestando imediata assistência material ao Bangladesh no seu esforço por responder eficazmente às urgentes carências humanas.
Apesar da minha visita ser primariamente dirigida à Comunidade católica do Bangladesh, considero um momento privilegiado o meu encontro que terá lugar amanhã em Ramna com os Responsáveis ecuménicos e inter-religiosos. Juntos, rezaremos pela paz e reafirmaremos o nosso compromisso de trabalhar pela paz. O Bangladesh é conhecido pela harmonia que tradicionalmente existe entre os seguidores de várias religiões. Esta atmosfera de respeito mútuo e um clima crescente de diálogo inter-religioso permitem aos crentes expressar livremente as suas convicções mais profundas sobre o significado e a finalidade da vida. Assim podem contribuir para promover os valores espirituais que são a base segura para uma sociedade justa e pacífica. Num mundo onde muitas vezes a religião é – escandalosamente – usada para fomentar a divisão, revela-se ainda mais necessário um tal género de testemunho do seu poder de reconciliação e união. Isto manifestou-se de forma particularmente eloquente na reação comum de indignação que se seguiu ao brutal ataque terrorista do ano passado aqui em Daca e na mensagem clara enviada pelas autoridades religiosas da nação, segundo a qual o santíssimo nome de Deus não pode jamais ser invocado para justificar o ódio e a violência contra outros seres humanos, nossos semelhantes.
Embora em número relativamente reduzido, os católicos do Bangladesh procuram desempenhar um papel construtivo no desenvolvimento da nação, especialmente através das suas escolas, clínicas e dispensários. A Igreja aprecia a liberdade – de que beneficia toda a nação – de praticar a sua fé e realizar as suas obras sócio- caritativas, incluindo a de oferecer aos jovens, que representam o futuro da sociedade, uma educação de qualidade e um exercício de sãos valores éticos e humanos. Nas suas escolas, a Igreja procura promover uma cultura do encontro, que tornará os alunos capazes de assumir as suas próprias responsabilidades na vida da sociedade. Com efeito, nestas escolas, a grande maioria dos estudantes e muitos dos professores não são cristãos, mas provêm de outras tradições religiosas. Tenho a certeza de que a Comunidade católica, de acordo com a letra e o espírito da Constituição Nacional, continuará a gozar da liberdade de levar por diante estas boas obras como expressão do seu empenho a favor do bem comum.
Senhor Presidente, queridos amigos!
Agradeço a vossa atenção e asseguro-vos as minhas orações, para que, nas vossas nobres responsabilidades, sejais sempre inspirados pelos altos ideais de justiça e serviço aos vossos concidadãos. De bom grado invoco, sobre vós e sobre todo o povo do Bangladesh, as bênçãos divinas da harmonia e da paz.

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Após as Celebrações Exequiais, Dom Rafael é Sepultado no Rio de Janeiro

Hoje, 29 de novembro, um dia após o falecimento do Bispo Emérito de Nova Friburgo, Dom Rafael Llano Cifuentes, a Catedral do Rio de Janeiro ficou bastante movimentada com as inúmeras celebrações pela alma do Epíscopo. A Missa de corpo presente das 11h30 foi presidida por Dom Edney Gouvêa Mattoso, atual Bispo de Nova Friburgo, e concelebrada por Dom Roque, Bispo Auxiliar do Rio, e presbíteros da Diocese. Logo após, às 14h, aconteceu a celebração das Exéquias, presidida pelo Arcebispo da Cidade do Rio, Dom Orani João Tempesta, com o corpo sendo levado, logo após, para o sepultamento no Cemitério de São Francisco Xavier, no Caju.
5 - SEPULTAMENTO
Missa de corpo presente
Além do Bispo da Diocese de Nova Friburgo e do Bispo Auxiliar do Rio, estavam presentes inúmeros sacerdotes da Região Serrana e também do Opus Dei.
Em sua homilia, Dom Edney começou destacando o versículo do Salmo 26, que dizia “Sei que verei a bondade de Deus na terra dos viventes”, e como Dom Rafael, apesar das grandes dificuldades enfrentadas em seus últimos dias de vida, pôde testemunhar os frutos de seu trabalho pastoral.
1 - DOM EDNEY
A conclusão do Seminário Diocesano de Nova Friburgo, segundo Dom Edney, fora a grande realização de Dom Rafael em seu episcopado na cidade. - Quando cheguei a Friburgo e percebi que o Seminário comportava 50 seminaristas, fiquei surpreso! Mas, então, percebi que havia sido assim construído numa visão de futuro. Hoje, graças a Deus, temos muitas vocações”, afirmou Dom Edney.
O Epíscopo confirmava, lembrando o fervoroso trabalho de Dom Rafael junto à pastoral familiar e à juventude, que toda obra realizada pelo Bispo Emérito ainda renderia muitos frutos à Igreja. Assim, concluiu sua fala, ressaltando que Dom Rafael fez o seu ofertório de uma maneira especial, ou seja, através de uma entrega total a aceitação do sofrimento por amor à Igreja. Um homem consumado pelo sofrimento, mas que nunca perdera sua alegria.
Exéquias
Presidida por Dom Orani, a celebração teve a participação de inúmeros Bispos, um grande contingente de sacerdotes e, ainda, um povo saudoso da alegria de Dom Rafael.
O Cardeal recordou o fervor com que o falecido Bispo realizava seus trabalhos, lembrando que ele nos deixava um legado, não só de belos textos e artigos, mas também de uma vida de serviço a Cristo e de fidelidade àquilo que a Igreja nos ensina.
4 - EXEQUIAS 2
Completou sua homilia, afirmando ainda que “olhando a vida de Dom Rafael, devemos nos unir a Cristo, e não nos desesperarmos com os sofrimentos. Pois com Cristo também ressuscitaremos. Em meio a tantas dores, ele esteve em paz, vivendo sua vida de fé”.
site diocese 2017 exequiasdomrafael
Ao final, Monsenhor Vicente Ancona, Vigário Regional da Prelazia do Opus Dei, compartilhou belas palavras sobre a personalidade de Dom Rafael: “Era um homem que vivia e nos ensinava a viver na misericórdia de Deus. Um homem que se confessava toda semana e vivia intensamente a alegria proporcionada pelo Sacramento da Reconciliação. (…) A raiz de sua alegria natural era baseada na infância espiritual, na misericórdia de Deus e também nas direções espirituais, sempre buscadas por ele. Era um homem que buscava os conselhos e vivia-os sempre de modo intenso. Sua alegria era invencível!”
Sepultamento
Após as exéquias, os fiéis puderam dar seu último adeus ao Bispo e, então, seu caixão foi fechado para ser levado ao Cemitério de São Francisco Xavier, no Caju.
5 - SEPULTAMENTO
Entre os presentes, Dom Orani, Dom Edney, Dom Antonio Augusto, Bispo Auxiliar do Rio, Monsenhor Vicente Ancona, além de sacerdotes do Rio, de dioceses próximas, e também do Opus Dei, entre eles o Pe. Benedito Montenegro, que em 1975 veio com Dom Rafael para o Rio de Janeiro com a missão de difundir o Opus Dei pela Cidade Maravilhosa. - Foi uma experiência fantástica, porque vivi toda essa vibração e empolgação de Dom Rafael no começo da obra. Foi para nós uma força muito grande, que nos ajudava a superar as dificuldades, sobretudo nos impulsionando a rezar. Era um homem de muita oração, e tinha sempre esse viés de nunca se sentir derrotado ou desanimado.
Seguindo até a capela de sepultamento, todos rezavam, confiando à Virgem o Bispo que nos deixava. Chegando ao local, Monsenhor Vicente Ancona ainda transmitiu uma mensagem do Prelado do Opus Dei, Monsenhor Fernando Ocári, encerrando a cerimônia.
Texto e fotos: Diogo Quadra

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Morre Dom Rafael Llano Cifuentes

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NOTA DE FALECIMENTO: Dom Rafael Llano Cifuentes

Faleceu no início da noite desta terça-feira, dia 28 de novembro de 2017, o Bispo Emérito de Nova Friburgo, Dom Rafael Llano Cifuentes, na casa da Opus Dei, na Tijuca - Rio de Janeiro, após longa enfermidade.

A partir das 22h de hoje haverá o velório para a comunidade e assessores próximos. A partir das 7h desta quarta feira, dia 29 de novembro, haverá velório público na Catedral Metropolitana de São Sebastião, no Rio de Janeiro, seguida de Santas Missas às 7h, 8h30, 10h e 11h30 e a concelebração de Exéquias às 14h. Após essa Santa Missa, o féretro seguirá para o Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, para ser sepultado no Mausoléu da Opus Dei, como deixou anotado como sua vontade e também pelo carinho dos membros da ordem por esse grande testemunho do homem de Deus que trabalhou com o fundador no início de sua vida de consagrado. Seus exemplos permanecerão como grande sinal no meio de nós!

Caminhada contra a intolerância religiosa


O povo santo realizou, na tarde do dia 20/11, a primeira caminhada contra a intolerância religiosa pelas ruas do Centro Histórico de Petrópolis – RJ. A concentração foi no coreto da Praça da Liberdade, de onde eles seguiram pelas avenidas Koeler e Imperatriz e pela Rua do Imperador, chegando ao calçadão do Cenip. A mobilização aconteceu durante o feriado do Dia da Consciência Negra, data que lembra o líder quilombola Zumbi dos Palmares.
“Entendemos que o preconceito às religiões afros está intimamente ligado ao racismo. Aproveitamos a data de hoje para fazer essa mobilização”, ressaltou o sacerdote umbandista Pedro Nogueira. O que a gente quer propagar é a cultura da paz, acabando com a intolerância e a violência. Todos aqui são contra esse estágio de violência que estamos vendo no Brasil, onde houve um aumento de 4 mil por centro nas denúncias no último ano”, informou o sacerdote.


Pedro Nogueira ressaltou que, em Petrópolis, não há um levantamento sobre os casos de intolerância religiosa. Segundo ele, na cidade ocorrências são “mais veladas”. “O preconceito acontece no olhar. Acontece quando alguém vê uma pessoa toda de branco, umbandista, e diz: olha lá o macumbeiro”, explicou.
Além de umbandistas, integrantes de outras religiões também foram convidados a participar do movimento. O frei franciscano Wagner fez questão de acompanhar a caminhada e concluiu: “Temos vários grupos que acompanham as discussões sobre esses temas. Deve haver sempre o respeito pela diversidade”.

Divulgada mensagem do Santo Padre para o Dia Mundial da Paz

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"Migrantes e refugiados: homens e mulheres em busca de paz" é o tema da Mensagem do Santo Padre para o Dia Mundial da Paz, a ser celebrado em 1° de janeiro de 2018. Eis a íntegra do texto:
"MIGRANTES E REFUGIADOS: HOMENS E MULHERES EM BUSCA DE PAZ
1.     Votos de paz
Paz a todas as pessoas e a todas as nações da terra! A paz, que os anjos anunciam aos pastores na noite de Natal,[1] é uma aspiração profunda de todas as pessoas e de todos os povos, sobretudo de quantos padecem mais duramente pela sua falta. Dentre estes, que trago presente nos meus pensamentos e na minha oração, quero recordar de novo os mais de 250 milhões de migrantes no mundo, dos quais 22 milhões e meio são refugiados. Estes últimos, como afirmou o meu amado predecessor Bento XVI, «são homens e mulheres, crianças, jovens e idosos que procuram um lugar onde viver em paz».[2] E, para o encontrar, muitos deles estão prontos a arriscar a vida numa viagem que se revela, em grande parte dos casos, longa e perigosa, a sujeitar-se a fadigas e sofrimentos, a enfrentar arames farpados e muros erguidos para os manter longe da meta.
Com espírito de misericórdia, abraçamos todos aqueles que fogem da guerra e da fome ou se veem constrangidos a deixar a própria terra por causa de discriminações, perseguições, pobreza e degradação ambiental.
Estamos cientes de que não basta abrir os nossos corações ao sofrimento dos outros. Há muito que fazer antes de os nossos irmãos e irmãs poderem voltar a viver em paz numa casa segura. Acolher o outro requer um compromisso concreto, uma corrente de apoios e beneficência, uma atenção vigilante e abrangente, a gestão responsável de novas situações complexas que às vezes se vêm juntar a outros problemas já existentes em grande número, bem como recursos que são sempre limitados. Praticando a virtude da prudência, os governantes saberão acolher, promover, proteger e integrar, estabelecendo medidas práticas, «nos limites consentidos pelo bem da própria comunidade retamente entendido, [para] lhes favorecer a integração»[3]. Os governantes têm uma responsabilidade precisa para com as próprias comunidades, devendo assegurar os seus justos direitos e desenvolvimento harmónico, para não serem como o construtor insensato que fez mal os cálculos e não conseguiu completar a torre que começara a construir.[4]
2.     Porque há tantos refugiados e migrantes?
Na mensagem para idêntica ocorrência no Grande Jubileu pelos 2000 anos do anúncio de paz dos anjos em Belém, São João Paulo II incluiu o número crescente de refugiados entre os efeitos de «uma sequência infinda e horrenda de guerras, conflitos, genocídios, “limpezas étnicas”»[5] que caraterizaram o século XX. E até agora, infelizmente, o novo século não registou uma verdadeira viragem: os conflitos armados e as outras formas de violência organizada continuam a provocar deslocações de populações no interior das fronteiras nacionais e para além delas.
Todavia as pessoas migram também por outras razões, sendo a primeira delas «o desejo de uma vida melhor, unido muitas vezes ao intento de deixar para trás o “desespero” de um futuro impossível de construir».[6] As pessoas partem para se juntar à própria família, para encontrar oportunidades de trabalho ou de instrução: quem não pode gozar destes direitos, não vive em paz. Além disso, como sublinhei na Encíclica Laudato si’, «é trágico o aumento de migrantes em fuga da miséria agravada pela degradação ambiental».[7]
A maioria migra seguindo um percurso legal, mas há quem tome outros caminhos, sobretudo por causa do desespero, quando a pátria não lhes oferece segurança nem oportunidades, e todas as vias legais parecem impraticáveis, bloqueadas ou demasiado lentas.
Em muitos países de destino, generalizou-se largamente uma retórica que enfatiza os riscos para a segurança nacional ou o peso do acolhimento dos recém-chegados, desprezando assim a dignidade humana que se deve reconhecer a todos, enquanto filhos e filhas de Deus. Quem fomenta o medo contra os migrantes, talvez com fins políticos, em vez de construir a paz, semeia violência, discriminação racial e xenofobia, que são fonte de grande preocupação para quantos têm a peito a tutela de todos os seres humanos.[8]
Todos os elementos à disposição da comunidade internacional indicam que as migrações globais continuarão a marcar o nosso futuro. Alguns consideram-nas uma ameaça. Eu, pelo contrário, convido-vos a vê-las com um olhar repleto de confiança, como oportunidade para construir um futuro de paz.
3.     Com olhar contemplativo
A sabedoria da fé nutre este olhar, capaz de intuir que todos pertencemos «a uma só família, migrantes e populações locais que os recebem, e todos têm o mesmo direito de usufruir dos bens da terra, cujo destino é universal, como ensina a doutrina social da Igreja. Aqui encontram fundamento a solidariedade e a partilha».[9] Estas palavras propõem-nos a imagem da nova Jerusalém. O livro do profeta Isaías (cap. 60) e, em seguida, o Apocalipse (cap. 21) descrevem-na como uma cidade com as portas sempre abertas, para deixar entrar gente de todas as nações, que a admira e enche de riquezas. A paz é o soberano que a guia, e a justiça o princípio que governa a convivência dentro dela.
Precisamos de lançar, também sobre a cidade onde vivemos, este olhar contemplativo, «isto é, um olhar de fé que descubra Deus que habita nas suas casas, nas suas ruas, nas suas praças (...), promovendo a solidariedade, a fraternidade, o desejo de bem, de verdade, de justiça»,[10] por outras palavras, realizando a promessa da paz.
Detendo-se sobre os migrantes e os refugiados, este olhar saberá descobrir que eles não chegam de mãos vazias: trazem uma bagagem feita de coragem, capacidades, energias e aspirações, para além dos tesouros das suas culturas nativas, e deste modo enriquecem a vida das nações que os acolhem. Saberá vislumbrar também a criatividade, a tenacidade e o espírito de sacrifício de inúmeras pessoas, famílias e comunidades que, em todas as partes do mundo, abrem a porta e o coração a migrantes e refugiados, inclusive onde não abundam os recursos.
Este olhar contemplativo saberá, enfim, guiar o discernimento dos responsáveis governamentais, de modo a impelir as políticas de acolhimento até ao máximo dos «limites consentidos pelo bem da própria comunidade retamente entendido»,[11] isto é, tomando em consideração as exigências de todos os membros da única família humana e o bem de cada um deles.
Quem estiver animado por este olhar será capaz de reconhecer os rebentos de paz que já estão a despontar e cuidará do seu crescimento. Transformará assim em canteiros de paz as nossas cidades, frequentemente divididas e polarizadas por conflitos que se referem precisamente à presença de migrantes e refugiados.
4.     Quatro pedras miliárias para a ação
Oferecer a requerentes de asilo, refugiados, migrantes e vítimas de tráfico humano uma possibilidade de encontrar aquela paz que andam à procura, exige uma estratégia que combine quatro ações: acolher, proteger, promover e integrar.[12]
«Acolher» faz apelo à exigência de ampliar as possibilidades de entrada legal, de não repelir refugiados e migrantes para lugares onde os aguardam perseguições e violências, e de equilibrar a preocupação pela segurança nacional com a tutela dos direitos humanos fundamentais. Recorda-nos a Sagrada Escritura: «Não vos esqueçais da hospitalidade, pois, graças a ela, alguns, sem o saberem, hospedaram anjos».[13]
«Proteger» lembra o dever de reconhecer e tutelar a dignidade inviolável daqueles que fogem dum perigo real em busca de asilo e segurança, de impedir a sua exploração. Penso de modo particular nas mulheres e nas crianças que se encontram em situações onde estão mais expostas aos riscos e aos abusos que chegam até ao ponto de as tornar escravas. Deus não discrimina: «O Senhor protege os que vivem em terra estranha e ampara o órfão e a viúva».[14]
«Promover» alude ao apoio para o desenvolvimento humano integral de migrantes e refugiados. Dentre os numerosos instrumentos que podem ajudar nesta tarefa, desejo sublinhar a importância de assegurar às crianças e aos jovens o acesso a todos os níveis de instrução: deste modo poderão não só cultivar e fazer frutificar as suas capacidades, mas estarão em melhores condições também para ir ao encontro dos outros, cultivando um espírito de diálogo e não de fechamento ou de conflito. A Bíblia ensina que Deus «ama o estrangeiro e dá-lhe pão e vestuário»; daí a exortação: «Amarás o estrangeiro, porque foste estrangeiro na terra do Egito».[15]
Por fim, «integrar» significa permitir que refugiados e migrantes participem plenamente na vida da sociedade que os acolhe, numa dinâmica de mútuo enriquecimento e fecunda colaboração na promoção do desenvolvimento humano integral das comunidades locais. «Portanto – como escreve São Paulo – já não sois estrangeiros nem imigrantes, mas sois concidadãos dos santos e membros da casa de Deus».[16]
5.     Uma proposta para dois Pactos internacionais
Almejo do fundo do coração que seja este espírito a animar o processo que, no decurso de 2018, levará à definição e aprovação por parte das Nações Unidas de dois pactos globais: um para migrações seguras, ordenadas e regulares, outro referido aos refugiados. Enquanto acordos partilhados a nível global, estes pactos representarão um quadro de referência para propostas políticas e medidas práticas. Por isso, é importante que sejam inspirados por sentimentos de compaixão, clarividência e coragem, de modo a aproveitar todas as ocasiões para fazer avançar a construção da paz: só assim o necessário realismo da política internacional não se tornará uma capitulação ao cinismo e à globalização da indiferença.
De facto, o diálogo e a coordenação constituem uma necessidade e um dever próprio da comunidade internacional. Mais além das fronteiras nacionais, é possível também que países menos ricos possam acolher um número maior de refugiados ou acolhê-los melhor, se a cooperação internacional lhes disponibilizar os fundos necessários.
A Secção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral sugeriu 20 pontos de ação[17] como pistas concretas para a implementação dos supramencionados quatro verbos nas políticas públicas e também na conduta e ação das comunidades cristãs. Estas e outras contribuições pretendem expressar o interesse da Igreja Católica pelo processo que levará à adoção dos referidos pactos globais das Nações Unidas. Um tal interesse confirma uma vez mais a solicitude pastoral que nasceu com a Igreja e tem continuado em muitas das suas obras até aos nossos dias.
6.     Em prol da nossa casa comum
Inspiram-nos as palavras de São João Paulo II: «Se o “sonho” de um mundo em paz é partilhado por tantas pessoas, se se valoriza o contributo dos migrantes e dos refugiados, a humanidade pode tornar-se sempre mais família de todos e a nossa terra uma real “casa comum”».[18] Ao longo da história, muitos acreditaram neste «sonho» e as suas realizações testemunham que não se trata duma utopia irrealizável.
Entre eles conta-se Santa Francisca Xavier Cabrini, cujo centenário do nascimento para o Céu ocorre em 2017. Hoje, dia 13 de novembro, muitas comunidades eclesiais celebram a sua memória. Esta pequena grande mulher, que consagrou a sua vida ao serviço dos migrantes tornando-se depois a sua Padroeira celeste, ensinou-nos como podemos acolher, proteger, promover e integrar estes nossos irmãos e irmãs. Pela sua intercessão, que o Senhor nos conceda a todos fazer a experiência de que «o fruto da justiça é semeado em paz por aqueles que praticam a paz».[19]
Vaticano, 13 de novembro – Memória de Santa Francisca Xavier Cabrini, Padroeira dos migrantes – de 2017.
Franciscus

SALVO DO SANTO PADRE AOS JORNALISTAS DURANTE O VÔO PARA O MYANMAR









SALVO DO SANTO PADRE AOS JORNALISTAS
DURANTE O VÔO PARA O MYANMAR

Vôo papal 
domingo, 26 de novembro de 2017

Greg Burke
Adeus ou a santidade de boa noite!
Estamos sempre gratos de tê-lo aqui, hoje talvez até mais, porque já são dez e meio [à noite]. Você falou de uma mensagem de reconciliação, de perdão, de paz. Esta noite, tentamos dar-lhe um pouco de paz; Nós fazemos coisas rapidamente, então você tem tempo para dormir. Obrigado. Se você quer dizer algo ...
Papa Francesco
Boa noite, e muito obrigado pela empresa. Obrigado pelo seu trabalho que sempre semeia tão bem. Desejo-lhe uma boa estadia. Eles dizem que está muito quente, desculpe, mas pelo menos é frutífera. Agora eu saúdo você.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

CF 2018: Especialista em segurança pública analisa a face da violência no Brasil

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O professor da PUC Minas, onde coordena o Núcleo de Estudos Sociopolíticos (Nesp), Robson Sávio Reis Souza, é um dos colaboradores na redação do texto base da Campanha da Fraternidade 2018, cujo tema é violência. Doutor em Ciências Sociais e especialista em Segurança Pública, além de membro associado do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o professor falou à Revista Bote Fé, das Edições da CNBB, sobre o tema da violência. Para o autor do livro “Quem comanda a segurança pública no Brasil: atores, crenças e coalizões que dominam a política nacional de segurança pública”, da Editora Letramento, a violência vem se tornando o fio condutor da forma como se realiza a sociabilidade no Brasil. Acompanhe, abaixo, a íntegra da entrevista.
A ideia de que o povo brasileiro é ordeiro e de que há uma sociabilidade pacífica é um mito nacional? 
A experiência do viver em paz fundamenta a autoimagem de um povo que se concebe como pacífico, ordeiro e inimigo da violência. Contudo, essa ideia não apaga as contradições. Ao mesmo tempo em que se ostenta a vida pacífica, produz-se e promove-se a violência, tanto no espaço público como no ambiente privado de casas e empresas; nas interações pessoais diretas ou mediadas pela tecnologia. Constata-se que, até mesmo nas relações sociais cotidianas, o equilíbrio necessário à existência pacífica tem aparecido frágil e suscetível a abalos, inflamados frequentemente por razões banais.
Nesse movimento de transformação social, tem emergido uma sociabilidade que vai se concretizando em ações cotidianas violentas. A cordialidade parece ceder lugar à intolerância. O compartilhamento negociado de espaços e recursos parece, então, correr o risco de ser substituído pela imposição autoritária de pontos de vista e a subjugação do outro pelo uso da força, seja ela simbólica ou, em certos casos, até mesmo física. Em razão de fenômenos como esses, é possível suspeitar que a sociedade brasileira possa estar consolidando modos de vida referenciados no uso da força e da violência.
A violência se torna o fio condutor da forma como se realiza a sociabilidade, isto é, a forma como uma pessoa interage com as demais em um certo grupo social. Por vezes, para combater a violência, escolhem-se condutas violentas. A concepção punitiva da justiça feita pelas próprias mãos, o incremento dos equipamentos de segurança pela população em busca de autoproteção, a exigência do maior rigor nas leis e do aumento dos presídios são exemplos de como o discurso contra a violência às vezes se converte em práticas que podem vir a aumentar ainda mais a sociabilidade violenta. Isso ocorre quando se pretender fazer o combate da violência pelo recurso a instrumentos potencialmente geradores de mais violência.
A concepção punitiva da justiça feita pelas próprias mãos, o incremento dos equipamentos de segurança pela população, a exigência do maior rigor nas leis e do aumento dos presídios são exemplos de como o discurso contra a violência às vezes se converte em práticas que podem vir a aumentar ainda mais a sociabilidade violenta
No texto base da CF 2018 vocês falam de uma violência multifacetada e epidêmica que faz parte da história do país. Multifacetada e epidêmica? O que estas expressões dizem sobre a natureza da violência em nosso país?
O Brasil é uma sociedade injusta, excludente e extremamente desigual que exibe uma democracia sem cidadania. Injustiça, exclusão e desigualdade são fatores que geram múltiplas formas de violência. A fome, o desemprego, a falta de moradia, de políticas públicas de proteção e promoção de direitos são tipos de violência que afetam a dignidade humana.
Apesar de ser a oitava maior economia mundial, é o décimo país mais desigual do mundo, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano, de 2016, elaborado pela Organização das Nações Unidas. Em relação à violência letal, por exemplo, os números apontados pelo Mapa da Violência 2016, mostram que, no Brasil, cinco pessoas são mortas por arma de fogo a cada hora. A cada único dia são 123 pessoas assassinadas dessa forma.
Por ano, quase 60 mil brasileiros são assassinados. A maioria pobres, negros, jovens e moradores da periferia. É uma violência seletiva. Não atinge a todos. No Brasil, há locais mais seguros que a Europa e mais violentos que a Síria.  Talvez, por isso, a violência letal não apareça como um escândalo que clama aos céus, para muitos segmentos da sociedade e dos governos.
Essas cifras revelam que, no Brasil, ocorrem mais mortes por arma de fogo do que nas chacinas e atentados que acontecem em todo o mundo. Contam-se mais homicídios aqui do que em diversas das guerras recentes.
A violência se torna o fio condutor da forma como se realiza a sociabilidade, isto é, a forma como uma pessoa interage com as demais em um certo grupo social
Os episódios de violência intensificaram-se e, ao que parece, tornaram-se comuns também em médios e pequenos centros urbanos, deixando de ser um fenômeno típico das grandes metrópoles. O que explica esta realidade?
Se antes a violência era um problema relativo às grandes cidades, em tempos recentes, numerosos fatores fizeram com que a violência chegasse também aos médios e pequenos municípios. Além disso, ela se disseminou por todo o território nacional, de modo que – apesar das variações regional ou local em sua intensidade – a violência é hoje um problema em todo o país. O incremento da violência pelo interior do país é determinado por múltiplos fatores, dificilmente redutíveis a uma causalidade única. Entretanto, não há como ignorar a influência do contexto socioeconômico na geração da violência.
dados disponíveis permitem afirmar que o sistema de segurança pública e de justiça criminal é ineficaz. Com o aumento da criminalidade a partir da década de 1980 foi-se consolidando um contexto em que a impunidade, a maior procura por drogas ilícitas e a maior disponibilidade de armas de fogo formaram o ambiente no qual se deu o crescimento dos homicídios e de outros crimes contra a pessoa e contra o patrimônio.
Ao invés de se rediscutirem o funcionamento e os objetivos do aparato estatal de segurança e justiça criminal para lidarem com a prevenção e o combate à violência urbana, assistiu-se ao incremento da indústria de armas de fogo, a medidas paliativas oi pontuais na gestão da segurança pública e à ascensão da indústria da segurança privada. É nesse contexto que se espraiou para todo o país a criminalidade violenta.
Se antes a violência era um problema relativo às grandes cidades, em tempos recentes, numerosos fatores fizeram com que a violência chegasse também aos médios e pequenos municípios.
Numa mesma cidade, encontramos oásis de paz e tranquilidade e territórios marcados por extrema violência. Que fatores definem estes espaços de paz e de guerra?
Pelo menos três fatores são fundamentais para definir esses espaços de paz e de guerra. O primeiro deles é a ação (ou omissão) do poder público. Nos locais onde o Estado deveria estar mais presente, como nas periferias das grandes cidades, observa-se uma quase ausência das políticas de proteção, promoção e defesa de direitos deixando tais territórios e seus moradores, muitas vezes, entregues a grupos armados e a toda a sorte de violência e desordem social.
Por outro lado, em áreas nobres, a presença do poder público se faz de múltiplas formas, garantindo direitos dos cidadãos e protegendo o patrimônio das elites. O segundo ponto que demarca a ocorrência da paz ou da guerra está relacionado ao poder do dinheiro. Quem pode pagar por segurança privada tem uma série de privilégios dentro do espaço urbano negados à maioria dos cidadãos que não possuem recursos financeiros. É dessa forma que a segurança deixa de ser direito e torna-se privilégio.
Um terceiro ponto diz respeito ao tratamento seletivo dado pelos órgãos públicos, dos três poderes, em relação à garantia de direitos, como o acesso à Justiça. Quem tem condições de pagar “bons” advogados, por exemplo, tem tratamento diferenciado. Nesse sentido, o viés étnico-racial e socioeconômico é fator preponderante para proteção ou exposição à violência.
Também as interações sociais que acontecem no espaço público da política e do aparato de Estado, por vezes, tornam-se violentas. Isso ocorre quando, ao invés de se pautarem pela equidade e a observância universal das leis consensualmente estabelecidas, as relações se pautam pela dissimetria de poder. Determinadas pessoas tiram benefício privado a partir de recursos que deveriam ser, por definição, públicos. Esse modo de funcionamento privatista das instituições da sociedade torna-se um forte gerador de diversas formas de violência.
“O modo de funcionamento privatista das instituições da sociedade torna-se um forte gerador de diversas formas de violência”

Como se manifesta a violência institucional no Brasil?
Diferentemente das formas de violência direta, existem outras que não se configuram como um fato ou evento remissíveis a um ou mais agressores que causem um dano claramente definido a outra pessoa ou a outras pessoas. Nesse caso, embora não se possa isolar e identificar claramente o agressor, persiste a agressão ainda que perceptível somente de forma indireta. Não se trata de um evento isolado, mas de um processo que acaba gerando dano a um segmento social, mesmo que, eventualmente, não se possa discernir explicitamente a intenção de produzir tal dano.
Apesar de ser mais difícil caracterizá-la, a violência no Brasil está relacionada a modelos de organização e a práticas sociais que alcançam um nível institucional e sistemático de produção e perpetuação de modos de vida violentos. Não é, portanto, apenas nas interações cotidianas que a violência transparece. Ela permeia também as instituições sociais. De fato, historicamente, o próprio Estado brasileiro age, através dos séculos, de modo a reiterar situações geradoras de violência, sobretudo no que tange à desigualdade e à exclusão.
Exemplificando a correlação entre violência e contexto social, econômico e político, vários estudos associam o aumento da violência letal – ou seja, a violência que gera morte – ocorrido na década de 1980, com a crise socioeconômica vivida naquele período. O processo inflacionário e a consequente corrosão dos salários implicaram perda de rendimentos principalmente para os mais pobres. Como resultado, aumentou expressivamente a desigualdade social.
Não se trata de uma relação linear de causa e efeito. O incremento da violência é determinado por múltiplos fatores, dificilmente redutíveis a uma causalidade única. Entretanto, não há como ignorar a influência do contexto socioeconômico na geração da violência.
“A violência no Brasil está relacionada a modelos de organização e a práticas sociais que alcançam um nível institucional e sistemático”
Como a questão da violência vem sendo enfrentada no âmbito das políticas públicas e práticas governamentais e da legislação brasileiras? Há alguma luz no fim do túnel?
A sociabilidade violenta é uma construção. Faz-se de escolhas políticas que a cada dia se renovam. Cada escolha ou decisão política em favor da manutenção da atual (des)ordem das relações contribui para a perpetuação do modelo. Em razão disso, parece coerente afirmar que o possível enfrentamento da violência depende intrinsecamente das relações políticas.
Entendem-se, com o termo “política”, as negociações que se estabelecem para que pessoas – com interesses tão numerosos e, por vezes, antagônicos – possam dividir pacificamente um mesmo espaço. Nesse sentido, pode-se dizer que não há solução para a violência fora das discussões que ocorrem no âmbito da política. Por outro lado, esse raciocínio conduz a reconhecer que cabe às decisões políticas uma parcela na responsabilidade pela perpetuação de estruturas geradoras de violência no Brasil.
Existem hoje, no Congresso Nacional, parlamentares identificados com segmentos econômicos e sociais fortemente interessados em propostas potencialmente geradoras de violência. Defendem o uso de armas de fogo pela população civil, sustentando tratar-se de um direito natural o da autopreservação. Tramitam propostas de alteração do “Estatuto do desarmamento”, não obstante o fato de este haver representado um importante passo na redução do número de mortes por arma de fogo. Há várias propostas de recrudescimento da legislação penal e de ampliação da ação discricionária das polícias, do Ministério Público e do Judiciário.
No entanto, para além deste aspecto mais visivelmente ligado à questão da segurança pública, existem inúmeras outras questões, estreitamente ligadas a interesses econômicos, que são hoje debatidas no Legislativo, não obstante o potencial motivador de mais violência de tais medidas. Destacam-se as propostas que dificultam ou impedem a reforma agrária, a demarcação de terras indígenas e outros povos tradicionais; as que restringem a legislação ambiental; e as que facilitam a liberação do uso de agrotóxicos. Nessas e em diversas outras medidas prevalece o interesse do ganho econômico para pequenos grupos, em detrimento do benefício de toda a população.
Quando praticada de modo a transformar o acúmulo de riquezas num fim em si mesmo ao invés de assegurar a dignidade das vidas humanas, a política gera violência. Produzindo exclusão e desigualdade social, tal forma de se fazer política faz da lei do mais forte a regra e pessoas tornam-se descartáveis.
O Papa Francisco tem se colocado firmemente contra essa cultura do descartável, “criada pelas potências que controlam as políticas econômicas e financeiras do mundo globalizado”. Em um discurso para a Associação de Movimentos Cooperativos Italianos, em fevereiro de 2015, ele ressaltou o “crescimento vertiginoso do desemprego” e os problemas que os sistemas de assistência social existentes tiveram para atender às necessidades da saúde pública. Para aqueles que vivem “nas margens existenciais” o sistema atual político e social “parece estar fatalmente destinado a sufocar a esperança e aumentar os riscos e ameaças”, afirmou o Pontífice.
O Papa tem frequentemente criticado a economia de mercado ortodoxa por estimular a injustiça e a desigualdade. Tem denunciado o fato de as pessoas serem forçadas a trabalhar longas horas, às vezes na economia paralela, em troca de um salário mensal ínfimo, porque elas são vistas como facilmente substituíveis. Segundo Francisco, quando o dinheiro se torna um ídolo, ele comanda as escolhas.
“Existem hoje, no Congresso Nacional, parlamentares identificados com segmentos fortemente interessados em propostas potencialmente geradoras de violência”
Há experiências de práticas sociais que apontam para o caminho da superação da violência?
Na busca pela paz, muito frequentemente, há uma ênfase ao combate à violência direta que, se eliminada, promoveria a paz. Disso resulta uma concepção entendida por alguns estudiosos como uma paz negativa (que, per si, pode inclusive ocultar injustiças que, muitas vezes, geram novos conflitos). Destaca-se aqui, portanto, a importância do enfrentamento não somente da violência direta, mas das violências estruturais e culturais, em busca de uma paz positiva e sustentável.
Por certo, a paz não será alcançada pela mera obediência e submissão a normas, pelo medo das sanções a determinados comportamentos coletivamente rechaçados, ou pela segregação de pessoas e grupos.  Há que construir uma sociedade que, pautada na justiça, deseje a paz.
Assim, reconhecendo que a paz não se caracteriza apenas pela ausência de conflito — condição inerente à vida humana em sociedade — a concepção de “cultura de paz” está aqui entendida no sentido do “cultivo da paz”, portanto, não como algo dado, mas resultado de ações e processos multidimensionais, individuais e coletivos, claramente intencionados a produzir modos de ser e de viver que tenham a paz como valor coletivo e horizonte a ser alcançado. Em outras palavras, trata-se de construir estilos de vida voltados para a promoção da paz.
O enfrentamento de diferentes formas de violência requer o agenciamento de estratégias distintas, porém concertadas. E o entendimento de que a paz é possível e desejada deve andar pari passu com a disseminação e concretização de ações que resultem na abolição de todas as situações que a impedem.
Assim sendo, a construção da paz submete-se a diversos condicionantes, somente se podendo realizar na ação de muitos atores sociais — individuais e coletivos—, via micro e macro práticas democráticas que promovam o fortalecimento do Estado de Direito, a promoção dos direitos humanos, a participação e o controle sociais.
Portanto, o desenvolvimento de uma cultura de paz implica a ampla ação institucional, sobretudo no que tange ao Estado — e tem-se aí o papel importantíssimo dos governos e o envolvimento das instituições jurídicas — e, paralela e igualmente importante, a ação da sociedade civil, dos grupos e dos indivíduos, de modo a que instaure uma radical mudança nas relações sociais e políticas.
Em outras palavras, a construção de uma Cultura de Paz está intimamente relacionada à promoção da democracia e ao fortalecimento das instituições democráticas; ao desenvolvimento econômico e social sustentável, com garantia da participação de todos; à erradicação da pobreza e das desigualdades; à eliminação de toda forma de discriminação; ao respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais; à promoção da tolerância, da diversidade e da solidariedade.