Walmyr Junior
A maturidade moderna entra em questão
novamente ao analisarmos um fenômeno que vem tirando a vida de muitos jovens e
adolescentes na Europa, fenômeno este que tem se espalhado pelo Brasil. A
‘cultura de morte’ que estamos falando vem dos altos índices da prática do
suicídio. O assunto foi mais uma vez levantado na internet quando o ‘desafio’
da Baleia Azul entrou em destaque e virou caso de polícia.
O Jogo é virtual e de origem Russa.
Mundialmente conhecido, o Baleia Azul, convoca os participantes a entrarem em
grupos secretos nas redes sociais e tem como propostas 50 metas que leva os
participantes a desafiarem sua própria existência. A dinâmica do jogo é
simples, porém os riscos que ele provoca permite a reflexão sobre as atuais
crises existências que a contemporaneidade vem sofrendo.
Quem sou eu? O que eu estou fazendo aqui?
Qual é o sentido da vida? São perguntas cotidianamente feitas por nós. Porque o
ser humano é o único ser vivo que adiciona sistemas de relações em sua
natureza, consolidando uma possível cultura, que o leva a responder essas
perguntas acima. Quando não respondido, o ser humano, de forma geral,
adolescentes e jovens no caso específico desta coluna, passa a ter a sensação
de estar sozinho e isolado no mundo, além disso, passa a questionar a
existência da sua própria vida.
A crise que abordamos é empírica, está no
cotidiano das relações. Vemos muitos adolescentes evitando a busca presencial
de relacionamentos e se prendendo a coletividades cibernéticas, com amigos
virtuais. Enquanto no habitat familiar reagem de forma introspectiva e
"calma", porém sabemos bem que dentro de suas cabeças reinam o caos
total. Um turbilhão constante de pensamentos, normalmente pessimistas, que fazem
os jovens ficarem extremamente ansiosos e esgotados.
Uma das grandes causas desse problema é o
sentimento de não aceitação, isolamento e medo. Não saber seu lugar no mundo,
não reconhecer e/ou não aceitar seu corpo, sua estética é uma dessas
depressivas características.
A vida de um adolescente em crise
existencial é muito injusta. A ausência de afeto familiar e a não compreensão
dessas especificidades só pioram o problema. Muitos veem nessas atrações
cibernéticas um refúgio dessa crise. O desafio da Baleia Azul cai como ‘uma
luva’ para quem busca o não existir. Se mutilar, ou até mutilar o outro
substitui relações saudáveis.
Além desse mal presente, com tantas
crises e inseguranças, os ‘desafios’ são impulsionados por uma terceira pessoa
que torna-se o fator mais tênue dessas relações constituídas. Ao invés da
família e dos amigos, geralmente os adolescentes e jovens em crise, vão buscar
nos falsos perfis das redes sociais, um meio de se sentir importante ou até
desafiado.
Fica para nós uma reflexão do que fazer
mediante a tais circunstâncias. O amar, acolher, compreender, escutar,
respeitar e aprender, são saídas que podemos encontrar para dar respostas as
crises da contemporaneidade.
*Walmyr Junior é morador de Marcílio
Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor, membro do MNU e do Coletivo
Enegrecer. Atua como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a
Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro
com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ
* Artigo publicado no Jornal do Brasil
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