sábado, 6 de maio de 2017


Que irmã Miria, agora, veja a face de Deus e se alegre eternamente; com os anjos e santos, entoe belos hinos ao Pai misericordioso, ao Filho Salvador e ao Espírito Santificador!

Dom Odilo Sherer - Cardeal Arcebispo de São Paulo


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Irmã Miria deixa incalculável legado para música litúrgica

Irmã Miria Kolling que faleceu na tarde desta sexta-feira, 5, compôs mais de 700 cantos que animaram a vida litúrgica das comunidades. Em 2015, ela concedeu entrevista publicada no jornal O SÃO PAULO
Luciney Martins/ Jornal O SÃO PAULO
A Congregação do Imaculado Coração de Maria informou na tarde desta sexta-feira, 5, o falecimento da Irmã Miria Therezinha Kolling, que não resistiu a uma cirurgia cardíaca.
Gaúcha da cidade de Dois Irmãos, Irmã Miria, religiosa da Congregação do Imaculado Coração de Maria, era pedagoga, musicista e compositora. Desde cedo, ela aprendeu a cultivar o amor pela música, mas foi o Concilio Vaticano II a grande motivação para a composição, com a renovação litúrgica. Por dois anos, estudou música sacra na Alemanha e na Áustria, tendo produzido ao longo da vida mais de 700 cantos e de 40 gravações entre LPs e CDs. Ela também percorreu o Brasil ministrando cursos e encontros de Liturgia e Canto Pastoral.
A música litúrgica a levou a conhecer mais de 20 países, e a cantar nos Estados Unidos, Canadá, Japão, Portugal, Moçambique, entre outros. Ela também foi premiada em 2009 e 2012 com o Troféu Louvemos ao Senhor.
Por ocasião da celebração de seus 45 anos de caminhada musical, em setembro de 2015, Irma Miria concedeu entrevista ao repórter Peterson Prates, colaborador de comunicação da Região Belém, que foi publicada pelo jornal O SÃO PAULO.
Repórter - Nestes 45 anos de vida dedicados ao canto litúrgico, o que mais a marcou?
Irmã Miria Therezinha Kolling - Bem, em primeiro lugar, o dom da música, recebido de Deus. É um dom maravilhoso, muito especial, divino mesmo, que comecei a cultivar na família e tive a possibilidade de desenvolver estudando música. Colocá-lo a serviço da liturgia, do louvor de Deus, foi ainda mais maravilhoso. Isso me emociona, saber e sentir como acontece a inspiração. Poder usar a música para o louvor de Deus, na nossa Igreja, na Liturgia, ajudando também as comunidades a celebrar cantando, é motivo de profunda alegria e gratidão.
Quais as principais mudanças e transformações que vivenciou no campo litúrgico?
Foi uma graça ímpar a renovação do Concílio Vaticano II, um verdadeiro Pentecostes acontecido na Igreja. E começou pela liturgia e o canto litúrgico. Lembro que aconteciam os Encontros, as Semanas de Liturgia, com um repertório novo, cantando na nossa língua, um entusiasmo e vigor jamais vistos. Foi um grande impulso à vida litúrgica, ao canto renovado, levando a uma participação ativa do povo nas celebrações. Começamos a entender o canto como parte integrante da liturgia, a assembleia tendo a primazia, todo um povo celebrante!
Qual o principal desafio de nossas comunidades hoje?
Hoje um grande desafio são as Missas-shows, onde só uma pessoa ou um pequeno grupo canta, sem a participação da assembleia; também a escolha dos cantos adequados, que devem estar a serviço da Palavra, levando em conta o momento celebrativo, o tempo litúrgico, enfim, o Mistério Pascal de Jesus Cristo que celebramos. Para a liturgia não pode ser escolhido um canto qualquer, pois ele é ritual, funcional, tem uma razão de estar ali: ajudar a expressar e mergulhar no Mistério da fé; ainda a questão dos instrumentos, sempre bem-vindos, mas muitas vezes colocados acima das vozes, abafando o canto da comunidade. O importante é a voz que canta, porque portadora da Palavra, do texto bíblico e litúrgico. O instrumento não pode abafar a voz do povo, mas tem que apoiar, embelezar, dar ritmo e harmonia ao canto. É a música em função do texto, de modo que eleve o coração a Deus, ajude a rezar, traga um pouco o céu para a terra, antecipando a liturgia celeste. Será que acontece isto hoje nas nossas liturgias, nos nossos grupos de canto?...
O que os animadores de canto necessitam para resgatar o contato intímo do canto com a liturgia?
A orientação da Igreja é que os músicos - cantores, tocadores, instrumentistas, grupos de canto, enfim os ministros do canto – não se sintam funcionários, mas somos cristãos, participantes da comunidade, colocando os dons a serviço da mesma, para o louvor de Deus. É preciso ter vivência cristã, ser pessoas de oração, buscar formação litúrgica, servir com humildade e competência, e sobretudo ter paixão pelo Senhor, pela Igreja, pela liturgia. Enfim, conhecer, aprofundar, celebrar com consciência, saboreando o mistério de Cristo celebrado na liturgia e concretizado na prática da vida. Já dizia um Padre da Igreja: “Querem saber o que cremos? Venham ouvir o que cantamos!”
Na liturgia existe música velha e ultrapassada?
Não, de modo algum. Porque Deus não se repete, sua Palavra é sempre nova, atual – Hoje não fecheis o vosso coração! Lembro o que dizia Santo Agostinho: “É melhor cantar um canto velho com um coração novo do que cantar um canto novo com um coração velho”. No coração novo, aberto, atento a Deus, cada palavra repercute sempre como única, irrepetível, no hoje da vida. O contrário também é verdadeiro... Com relação aos cantos, o segredo é dosar o antigo com o novo, o que já está na alma do povo – memória - e aprendizagem de cantos novos, mensagens atuais, sempre com o cuidado de evitar a rotina, o cantar por cantar, mas cantar no Espírito, como experiência de Deus. Sempre importante é levar em conta os tempos litúrgicos e cada momento celebrativo, na escolha dos cantos. O mesmo Santo Agostinho nos diz que “mais do que cantar louvores a Deus, seja o cantor, ele mesmo, um louvor vivo ao Senhor!”

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