sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

IV DOMINGO DO ADVENTO

A anunciação do anjo a Maria




Lc 1,26-38

Meus caros irmãos e irmãs,

Já está próximo o Natal do Senhor e a liturgia da Palavra nos prepara para este momento e convida a meditar a narração do anúncio do Anjo a Maria. O anjo Gabriel revela à Virgem Maria a vontade do Senhor, que Ela se torne Mãe do seu Filho unigênito: “Eis que conceberás e darás à luz um filho, e que lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo!” (Lc 1,31-32).

O texto evangélico começa dizendo que o anjo Gabriel “foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré” (Lc 1,26). Os moradores daquela região eram pagãos, exceção feita a uns poucos israelitas. Nazaré era uma cidade tão insignificante que não é citada nem uma vez no Antigo Testamento. No entanto, ali Cristo seria concebido. Mais tarde Bartolomeu antes de se tornar apóstolo, indagará a Filipe que lhe dizia ter encontrado o Messias, Jesus: “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré da Galileia”? (Jo 1,47).

Havia de fato um enorme preconceito contra os galileus. No entanto, foi na pequena Nazaré, uma aldeia simples, ignorada e sem importância no cenário político da época e à margem dos caminhos de Deus e da salvação, o lugar em que ocorreria a concepção de Jesus.  Nazaré teve a honra de ser o lugar no qual o Verbo de Deus se encarnou. Na pequena cidade de Belém, Jesus nasceria; ao passo que em Jerusalém, a capital, seria condenado, crucificado e morto na cruz.

O relato evangélico continua e identifica Maria como “uma virgem prometida em casamento a um homem chamado José” (Lc 1,27). O casamento hebraico considerava o compromisso matrimonial em duas etapas: havia uma primeira fase, na qual os noivos se prometiam um ao outro: os “esponsais”; só numa segunda fase surgia o compromisso definitivo, a cerimônia do matrimônio. Entre os “esponsais” e o rito do matrimônio, passava um tempo mais ou menos longo, durante o qual qualquer uma das partes podia voltar atrás, ainda que sofrendo alguma penalidade.

Durante os “esponsais”, os noivos não viviam em comum; mas o compromisso que os dois assumiam tinha já um caráter estável, de tal forma que, se surgisse um filho, este era considerado filho legítimo de ambos. A Lei de Moisés considerava a infidelidade da “prometida” como uma ofensa semelhante à infidelidade da esposa (cf. Dt 22,23-27). E a penalidade seria a morte por apedrejamento. José e Maria estavam, portanto, na situação de “prometidos”, pois ainda não tinham celebrado o matrimônio, mas já tinham celebrado os “esponsais”.

Dentro deste contexto, ocorre o anúncio do anjo a Maria, e a primeira palavra usada pelo anjo no momento da anunciação é “chaire”, uma expressão de origem grega, que significa “rejubila, alegra-te”.  Normalmente a saudação entre os judeus era "Shalom", que pode ser traduzida como “paz", enquanto a saudação no mundo grego era "Chaire", ou seja, "alegra-te". É de se admirar que o anjo, ao entrar na casa de Maria, a cumprimente com a saudação dos gregos. Com isto, podemos compreender que com o início do Novo Testamento, a que se referia esta página do Evangelista São Lucas, teve lugar também a abertura para a salvação, à universalidade do Povo de Deus, que incluía não só o povo hebreu, mas também o mundo na sua totalidade, todos os povos. Nesta saudação grega do anjo manifesta-se a nova universalidade do Reino do verdadeiro Filho de Davi (cf. BENTO PP XVI, A infância de Jesus, São Paulo, 2012, p. 30-31).

Usando esta saudação “alegra-te”, podemos dizer que o mensageiro celeste retoma uma expressão já presente no Antigo Testamento, presente no Livro do profeta Sofonias. O profeta Sofonias, inspirado por Deus, diz a Israel: "Alegra-te, filha de Sião; o Senhor está contigo e acolhe-te na sua morada" (Sf 3,16). Com isto, o evangelista São Lucas quer dizer que, no Filho de Maria, se realizaram todas as profecias: a virgem concebeu, como anunciou o profeta Isaías (cf. Is 7,14) e Deus se fez presente como Salvador do seu povo em Maria, identificada como filha de Sion, da qual falou o profeta Sofonias.  E pelo Canto do Magnificat, percebemos que Maria reconhece ser a "filha de Sião", de que o profeta falou, e, portanto, o Senhor tem uma intenção especial para ela, pois foi chamada para ser a mãe do Salvador, a morada de Deus por excelência. Maria é o lugar por excelência do cumprimento das profecias divinas. É nela que a Palavra de Deus se cumpre no sentido mais pleno.

Com este diálogo do anjo Gabriel com Maria, começa realmente o Novo Testamento. Portanto, podemos dizer que a primeira palavra do Novo Testamento é um convite à alegria.  E esta é a grande alegria que o cristianismo anuncia.  Com o convite à alegria tem início um tempo novo.  Esta alegria que a humanidade recebeu, não pode conservá-la somente para si; a alegria deve ser sempre compartilhada, deve ser comunicada. Maria foi imediatamente transmitir a sua alegria à sua prima Isabel. Também nós somos chamados a anunciar a alegria. Este é o verdadeiro compromisso desse tempo litúrgico: levar a alegria aos outros. O verdadeiro presente de Natal é a alegria. Nós podemos transmitir esta alegria de modo simples: com um sorriso, com um bom gesto, com uma pequena ajuda, um perdão.

Na sequência, ao ouvir as palavras do arcanjo Gabriel, Maria ficou a pensar no significado da saudação que lhe havia sido dirigida (cf. Lc 1,29; mas logo em seguida, o anjo dirá: "Não tenhas medo, Maria!" (v. 30). Maria tinha motivo para ter medo, além das circunstâncias legais da época, era grande o peso de carregar o fardo do mundo sobre si mesma, ser a mãe do Rei do Universo, ser a mãe do Filho de Deus! Um peso acima das forças de um ser humano! Mas o anjo tranquiliza Maria dizendo: "Não tenhas medo!” (v. 30).  Com esta expressão do anjo Gabriel também nós recebemos uma valiosa lição: Não precisamos ter medo de receber Jesus neste Natal e de testemunhá-lo a todos.

Neste trecho evangélico, é também significativa a resposta de Maria ao anjo, concluindo o diálogo: "Eis aqui a Serva do Senhor. Faça-se em mim, segundo a tua palavra" (v. 38).  Maria diz "sim" àquela vontade divina e, com isto, abre a porta do mundo a Deus.  Com estas palavras, podemos lembrar da oração do Pai Nosso, onde temos uma expressão semelhante: “Seja feita a vossa vontade”.  Maria deu a cada um de nós o exemplo: Devemos fazer sempre a vontade de Deus.

Esta resposta de Maria precisa ser considerada.  Ela chama a si mesma de “Serva do Senhor”.  O Evangelista São Lucas a havia chamado de “Virgem”, o anjo, de “cheia de graça”; e seus pais, de “Maria”.  O servo depende de seu senhor, da sua vontade.  E Maria, se auto identificou como a Serva do Senhor. A palavra do anjo é uma ordem: “Conceberás e darás à luz”;  que Maria aceita em sinal de obediência e alegria. É também importante notar que o Filho de Deus não se encarnou sem o consentimento daquela que devia ser sua mãe. Este exemplo se aplica aos dois fatores de nossa santificação: A graça de Deus e a cooperação da nossa vontade.

O exemplo da Virgem de Nazaré é para todos nós um convite a acolher com total abertura de espírito o Cristo que vem no Natal, que por amor se faz nosso irmão. Ele vem para trazer a paz ao mundo: “Paz na terra aos homens por Ele amados!” (Lc 2,14), como anunciaram os anjos aos pastores. O dom precioso do Natal é a paz, e Cristo é a nossa paz.

Preparemo-nos para celebrar dignamente o Natal já próximo. Sigamos com Maria e José rumo a Belém. Que os nossos passos caminhem em direção ao Menino Jesus que nasce; e os nossos olhos se abram para que possamos ver e reconhecer o Filho de Deus entre nós e que possamos abrir de par em par as portas do nosso coração para acolhê-lo.  Um feliz Natal a todos!  Assim seja.

D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB

Mosteiro de São Bento/RJ

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

I Pregação de Advento: "Que lugar ocupa Cristo no universo?"



Papa Francisco e seus colaboradores mais próximos participaram na manhã de sexta-feira (15/12) da primeira pregação do Advento 2017, na Capela Redemptoris Mater, no Vaticano. O pregador oficial do Vaticano, o capuchinho Raniero Cantalamessa, é o autor dos sermões semanais, e este teve como tema "Tudo foi criado por Ele e para Ele; Cristo e a criação”.

As meditações do Advento deste ano têm como proposta recolocar a pessoa divina-humana de Cristo no centro dos dois grandes componentes que, em conjunto, constituem "o real", isto é: o cosmos e a história, o espaço e o tempo, a criação e o homem. O objetivo final é colocar Cristo "no centro" de nossa vida pessoal e de nossa visão de mundo, no centro das três virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade.
Cristo e o cosmos, Criação e encarnação
Como primeira meditação, Frei Cantalamessa sugeriu a reflexão sobre o relacionamento entre Cristo e o cosmos. "No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas"  (Gn 1, 1-2).  Segundo ele, esta relação, entre criação e encarnação está bem expressa no Livro do Gênesis e na encíclica Laudato si’.
“É uma questão de saber qual lugar ocupa a pessoa de Cristo em todo o universo”, afirmou, questionando: “Existe, então, algo que nos permita escapar do perigo de fazer de Cristo "um intruso ou uma pessoa deslocada na esmagadora e hostil imensidão do Universo"? Em outras palavras, Cristo tem algo a dizer sobre o problema urgente da ecologia e da salvaguarda da criação, ou isso é totalmente marginal a ele, como um problema que afeta quando muito a teologia, mas não a cristologia?
O Espírito Santo é a força misteriosa que impele a criação para a sua realização. Ele que é “o princípio da criação das coisas”, é também o princípio da sua evolução no tempo. Na verdade, isso não é outra coisa senão a criação que continua. Em outras palavras, o Espírito Santo é aquele que, por sua natureza, tende a fazer a criação passar do caos ao cosmos, a fazer disso algo bonito, limpo: um "mundo" precisamente, de acordo com o significado original desta palavra.
Como Cristo atua na criação
O frei capuchinho levantou ainda uma questão: Cristo tem algo a dizer sobre os problemas práticos que o desafio ecológico coloca para a humanidade e para a Igreja? Em que sentido podemos dizer que Cristo, trabalhando através do seu Espírito, é o elemento-chave para um ecologismo cristão saudável e realista?
“Penso que sim”, respondeu Frei Cantalamessa. “Cristo desempenha um papel decisivo também nos problemas concretos da proteção da criação, mas o faz indiretamente, trabalhando no homem e - através do homem - na criação”. Acontece como no início da criação: Deus cria o mundo e confia a custódia e a salvaguarda ao homem.  
Como agir global e localmente
 Como todas as coisas, também o cuidado da criação tem dois níveis: o nível global e o nível local. Um slogan moderno convida a pensar globalmente, mas agir localmente: Think globally, act locally. Isso quer dizer que a conversão deve começar do indivíduo, isto é, de cada um de nós. Francisco de Assis costumava dizer aos seus frades: "Nunca fui um ladrão de esmolas, pedindo-as ou usando-as além da necessidade. Peguei sempre menos do que eu precisava, para que os outros pobres não fossem privados de sua parte; porque, de outra forma, seria roubar".(14)
Hoje esta regra poderia ter uma aplicação muito útil para o futuro da Terra. Também nós devemos propor-nos: não ser ladrões de recursos, usando-os mais do que o necessário e retirando-os, assim, daqueles que virão depois de nós. Em primeiro lugar, nós que trabalhamos normalmente com o papel, poderíamos tentar não contribuir com o desperdício enorme e desconsiderado que é feito desta matéria-prima, privando assim a mãe terra de uma árvore menos.
Sobriedade e parcimônia, para que todos tenham
O Natal é um forte chamado a esta sobriedade e parcimônia no uso das coisas. Quem nos dá o exemplo é o próprio Criador que, tornando-se homem, se satisfez com um estábulo para nascer. ..”
Todos nós, crentes e não-crentes, somos chamados a comprometer-nos com o ideal da sobriedade e do respeito pela criação, mas nós, cristãos, devemos fazê-lo por uma razão e com uma intenção a mais e diferente. Se o Pai Celestial fez tudo "por meio de Cristo e em vista de Cristo", também nós devemos tentar fazer tudo assim: "por meio de Cristo e em vista de Cristo", isto é, com sua graça e para a sua glória. Também o que fazemos neste dia.
Tradução do original italiano feita por Thácio Siqueira

Abertura do Processo de beatificação de Dona Lurdinha Fontão

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Um depoimento sobre a Serva de Deus D. Lourdinha Fontão
As reuniões e missas no Sitio Brejinho, onde eu morava, começaram por iniciativa de D. Lourdinha, que gostava de evangelizar. 
Como minha mãe fazia toalhas de frivoletê, e D. Lourdinha fazia questão de presentar as pessoas amigas com essas toalhinhas, ela se dispor a ir toda a semana em minha casa para rezar o terço e explicar o Evangelho. Eram as reuniões da Boa Nova.
Logo as missas começaram a ser celebradas pelo então recém ordenado Pe. Orani num rancho perto de minha casa. Era uma alegria preparar o local para as reuniões. Eu tinha escolhido o Pe. Orani como meu padrinho de crisma em 1975, mas como o superior da época achou melhor escolher um leigo, então escolhi o esposo da Lourdinha, pois ela também não podia na época, por ser mulher. 
Comecei a freqüentar a casa dela, onde a Palavra de Deus era sempre a meta. Era muito alegre e disposta. Dizia no início de cada prece da Oração dos Fiéis: "nós te louvamos Jesus e Maria..."; "pelas mães que esperam um filho, pelas mães que desejam um filho...."
Eu nem sabia o que era monge e foi a D. Lourdinha quem me levou a primeira vez ao mosteiro, que ficava a menos de uma quadra das casas de minha avó e tias. Ela também morava há duas quadras do mosteiro.
Comecei a passar os fins de semana com os monges cistercienses. Havia Encontros Vocacionais. Ela chamava carinhosamente os vocacionados e formandos do mosteiro de "meninos do Brasil".
Devo muito à Lourdinha, pois sei que ela me rezou muito pela minha vocação. Até hoje quando estou com sérias dificuldades para resolver vou junto do seu túmulo na Igreja Nossa Senhora de Loreto e peço uma graça. De uma forma ou de outra tudo se encaminha. 
Ela dizia que "para Deus não há coincidência mas Providência".
Ela amou muito a Igreja, a Paróquia e o Mosteiro, e percebo que até hoje intercede por nós. 
Ela procurou fazer da sua familia uma Igreja para que a Igreja fosse uma Familia.
Recordo que em momentos difíceis de minha familia, como a bebida de meu pai, ela sempre dava uma palavra de reconciliação.
Muitos vestidos que minha mãe chegou a usar, foram da Lourdinha, e isso era motivo de honra para minha mãe.
Minha mãe quase todos os dias ou ao menos aos domingos escrevia numa lousa dada pela D. Lourdinha uma frase do Evangelho ou de edificação. Esta lousa ficava na sala de jantar de casa. Um belo quadro da Santa Ceia com moldura de galhos de jaboticabeira que estava nesta sala também era da própria casa da Lourdinha.
A primeira árvore de Natal de minha casa foi a que ela montou numa missa no pátio da cadeia pública celebrada pelo então Pe. Orani. Ela mostrava e vendia os trabalhos artesanais feitos pelos detentos, como canetas, chaveiros, etc.
Os comentários que ela fazia nas missas eram longos, mas sempre no sentido de acolher, animar, chamar á conversão.
Nos aniversários de Dom Orani a Lourdinha enfeitava a estante da Palavra com a flor de São João, que cresce e floresce nos barrancos secos na época do seu natalício, 23 de junho.
Lembro-me que ela arrumava tempo para tudo. Aos sábados, quando ia na sua casa, ela cozinhava, atendia o telefone, colocava a mesa, atendia a porta, tudo com muito gosto. A porta de sua casa estava sempre encostada. Quando alguém chegava ela já ia dizendo: "vai entrando". A mesa redonda estava sempre bem montada, também com bolos e doces.
O relacionamento dela com a familia foi sempre harmonioso. Ainda que saísse muito para as pastorais, o esposo Dr. Heber e os filhos sabiam que ela estava servindo a Deus no próximo. O marido gostava de rádio amador e foi um dos primeiros na cidade a filmar as Semanas da Familia, ordenações. Tudo incentivado por ela.
A Lourdinha fazia junto com o Pe. Orani o "Programa Sinal Verde para você", na Rádio Difusora aos sábados de manhã. Explicava o Evangelho, convidava para os bazares, lia a Palavra de Vida do mês. Depois que ela foi à Itália e viu em Loreto a Madre Teresa de Calcutá, que foi a Lopiano, do Focolare, divulgou com maior entusiasmo o carisma da unidade, a espiritualidade de “Jesus Abandonado”,” Jesus no meio”.
Ela tratava com muita atenção católicos, evangélicos e ateus. Também para eles pedia contribuição mostrando que suas ações pastorais não tinham limites, e que todos podiam ajudar.
Nunca ouvi uma palavra imprópria de sua boca. Mesmo os fatos difíceis eram apresentados com objetividade, mas com sinal de esperança, de uma solução favorável.
Ela tinha uma caligrafia tão bonita. Escrevia nos verso dos santinhos ou marca-páginas os comentários das leituras e as preces, de modo que dava oportunidade para outros lerem nas missas.
Quando chegava já ia falando tudo de uma vez, com um sorriso que quebrava qualquer clima de frieza: "bom dia, boa tarde e boa noite, como vai compadre/comadre?"
Muitos agentes de pastoral que estão em plena atividade na Paróquia ainda hoje dizem que tiveram algo com ela, que convidou a participar da Igreja, que ganhou um livro ou um rosário dela, que pediu que ela rezasse por uma intenção especial.
Conheci nestes últimos meses boa parte de suas agendas, que minuciosamente registram os fatos de cada dia. Não sei como ela arrumava tempo para tanta coisa. Para a maior glória de Deus e não dela, deixou como herança espiritual para seus filhos esses relatos que mostram o essencial na vida dela: dizia que se levantava, rezava, fazia o café, abria a Igreja, rezava o terço com as pessoas, participava da missa, saia para levar a comunhão aos doentes, voltava para casa e seguia sei ritmo normal como mãe de família cristã. Nesses relatos colocava tanta coisa: problemas mundiais, situação política que País estava vivendo, noticias da Igreja em geral, Diocese, Paróquia e Mosteiro. São dezenas de diários, um para cada ano, verdadeira reconstituição dos acontecimentos históricos à luz da fé.
Ela assinava o jornal L' Osservatore Romano. Quantas vezes, me lembro, que ela levava esse jornal e lia nas reuniões, para que as pessoas desfrutassem das noticias e doutrinas da Igreja.
A Lourdinha foi defensora da vida. Teve muitos filhos, sofreu por dois abortos espontâneos. Sempre rezava assim: "pelas mães que esperam um filho, pelas mães que desejam um filho".
Na cidade até hoje é comum as pessoas acrescentarem a cada mistério do rosário a jaculatória por ela muito difundida: "meu Deus, eu creio, adoro e vos amo..."
Nestes últimos tempos um filho começou a digitar suas cartas e mensagens, bens como depoimentos e artigos de jornal dela ou sobre ela. Notei que ela tinha um relacionamento com todo o tipo de pessoas. Temos respostas do papa através de várias cartas da Secretaria de Estado do Vaticano, de cardeais, bispos, padres, religiosos e religiosas, destacando a de muitos monges. Ela escrevia para políticos, empresários, ricos e pobres.
Organizava com Mons. Denizar Coelho e Pe. Orani a Semana da Familia na cidade, fazendo questão de hospedar em sua casa os palestrantes, como Pe. João Mohanna, Pe. Antônio Maria, Pe. Heber Salvador de Lima, entre outros que me lembro agora.
Sua Páscoa foi um susto mas certamente ela intercedeu para que outras pessoas fossem surgindo, cada uma com seu carisma próprio.
O Livro de Tombo da Paróquia São Roque, desde 1968 (ano da criação desta segunda Paróquia da cidade) foi feito cuidadosamente por ela até um dia antes de sua viagem para a Mariápolis em Aparecida em 1988, dias antes de sua morte.
O velório da Lourdinha foi algo de impressionante. milhares de pessoas passaram pelo seu corpo de dia e de noite. Padres rezaram missas de hora em hora, até de madrugada. Dom Tomás Vaquero, Bispo Diocesano, com o qual ela tinha se confessado em Aparecida antes do acidente, era muito amigo dela. Logo ao saber da noticia de sua morte, quis que ela fosse sepultada no presbitério da Igreja Nossa Senhora de Loreto, por ela construída, no Jardim Aeroporto.
Dom Tomás já era idoso mas participou de toda a procissão que saiu da Matriz São Roque até o Loreto, indo a pé por todo o percurso. A missa de exéquias precisou ser campal, pois eram centenas de pessoas presentes. O corpo dela estava dentro da Igreja e se faz uma fila enorme de pessoas para prestar sua última homenagem. Elas entravam por uma porta, costeavam por um cordão de isolamento seu caixão e tinham que sair por outra porta, de tanta gente que estava presente. Os que estavam organizando esta fila precisavam pedir para as pessoas não demorarem, pois ainda pessoas, às centenas, esperavam fora da Igreja para entrarem.
O clima da Comunidade neste última missa celebrada pelo Sr. Bispo era uma mistura de tristeza pela partida mas de alegria pela obra de Deus na vida dela.
Até hoje nesta Igreja, nas missas, se coloca intenções por ela, para que junto de Deus goze da alegria dos justos.
A ausência física da Lourdinha é recompensada pela sensação de que ela junto do Senhor está ainda mais próxima de nós. Isto se comprova com tantos fatos bonitos que aconteceram na Paróquia e no Mosteiro. O Mosteiro começou a ser ampliado, vocações foram chegando, a ponto de monges foram nomeados bispos, um deles inclusive cardeal. A Paróquia foi intensificando sua atuação pastoral.
Na cidade, logo depois de sua páscoa, com a grande comoção popular, foram tomadas muitas iniciativas: artigos de jornal e até uma escola tomou o nome dela como patrona.
A frase que está cunhada em sua lápide é muito significativa, pois foi dada a ela por Chiara Lubich, fundadora do Movimentos dos Focolares.

Que esta possibilidade do Processo de Beatificação e Canonização da Serva de Deus Dona Lourdinha ajude a todos no caminho da vocação universal à santidade.
Na nossa Diocese já temos dois Servos de Deus: um sacerdote (Pe. Donizete) e um religioso (Ir. Roberto), embora não tenham nascido na Diocese. Já a Dona Lordinha é uma leiga, uma mulher, mãe de família, que nasceu no território atual da Diocese, o que muito alegra a Igreja de Deus.
Com isso não queremos idolatrar ninguém, mas apenas possibilitar que sua vida simples e normal seja incentivo para que um número maior de pessoas possam reconhecer o Senhor Jesus Cristo.
Uma Associação Pró-Beatificação está sendo montada. A seu tempo o corpo da Serva de Deus deverá ser exumado e, com procedimentos feitos por peritos do Vaticano, será colocado num sarcófago.
Um Tribunal Diocesano será instituído para que tudo conforme a praxe da Congregação da Causa dos Santos seu processo seja documentado e avaliado.
Depoimentos serão colhidos. Temos muitas pessoas, sobretudo idosas, que já fizeram por escrito. Todas as suas agendas, diários, artigos de jornal, programas radiofônicos, cartas, mensagens deverão ser digitados para posterior verificação e julgamento do Tribunal Diocesano e encaminhamento para a Santa Sé.

Rezemos para que, se for da vontade Deus, tudo se encaminhe bem nas várias etapas a serem cumpridas.

Em Santo Amaro o espetáculo da cavalhada promete se repetir no dia 15 de janeiro.



Expectativas e contagem regressiva. No distrito campista os moradores já começam a se preparar para a Festa de Santo Amaro. E se depender de Miguel Henrique de Carvalho o espetáculo da cavalhada vai repetir o brilho no dia 15 de janeiro. E a garantia que o folguedo de origem portuguesa nunca vai acabar. Para o filho Welligtton Luis Pereira de Carvalho passou o chapéu de capitão dos cristãos que estarão repetindo a batalha com os mouros; Mas para o velho capitão a alegria vem em dobro e o neto Luis Eduardo Ribeiro de Carvalho, 16 anos, já esta se apresentando ao lado do pai. Uma batalha pacifica e que garante que o espetáculo vai continuar pelas próximas décadas.

Reunir roupas, adereços, contabilizar e verificar o material e preparar tudo muito bem com os ensaios que já começaram. No campo as manobras são repetidas e como num bailado os detalhes para o brilho de um dia mais esperado. O que importa é brilhar para atrair para a apresentação com toda a beleza e dignidade de uma batalha que acaba com todos vitoriosos.  Gerações que se encontram no dia da festa do Padroeiro da Baixada Campista. A expectativa é de um público que ultrapassa 100 mil visitantes nos dias festivos.
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- Desde criança assistia as cavalhadas, mas a pela primeira vez que participei foi com 13 anos e só parei em 2015, e passei a meu filho Wellington que é o capitão dos cristãos. Foi uma alegria e emoção e agora meu neto Luiz Eduardo pediu para correr ao lado do pai. E me sinto muito feliz. Saber que a tradição continua. Na minha família dois primos corriam cavalhada; Amaro Constantino e João Palmeira. – conta Miguel Henrique.

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Uma tradição cultural da cidade a cavalhada foi introduzida na festa em Santo Amaro há mais de três séculos. E as apresentações na festa em janeiro atraem turistas de várias partes do Brasil. A TV Sesc Senac já produziu dois documentários nos programas Balaio Brasil e Coleções com exibição em rede nacional de televisão. A comunidade se reúne para a preservação do bem cultural, e mesmo enfrentando as dificuldades financeiras a apresentação acontece com todo brilho.
Dar continuidade a tradição é um desafio para os organizadores da cavalhada. Um trabalho que vem sendo coordenador pelos capitães Wellignton Luis e Joel Rita da Costa. Uma tradição iniciada por volta de 1736, por ocasião da construção da capela primitiva dedicada a Santo Amaro. Segundo relatos foi trazida para o distrito por Antonio Pinto, um dos Sete Capitães. Para o Pesquisador de Cultura Popular, Ricardo Gomes, uma apresentação que resiste ao tempo, mantendo toda originalidade.
- Preservar a cavalhada é preservar um importante patrimônio da cidade de Campos. Um patrimônio que representa a expressão cultural, uma herança da colonização lusa, que com o passar dos séculos se mantém em toda a sua originalidade. E mérito dos moradores do distrito campista. - destaca Ricardo Gomes.
A cavalhada vem sendo realizada desde o século XVII, e a tradição vem sendo mantida pelos moradores. Para o Bispo de Campos, Dom Roberto Francisco Ferreria Paz representa um registro significativo de como nossa região conserva e fez uma recepção criativa da matriz cultural ibérica, que plasmou nas cavalhadas, uma expressão simbólica da reconquista das terras que foram tomadas dos mouros. A Igreja preserva e ao mesmo tempo faz a purificação da memória transformando em exercício eqüestre e artístico o que era conflito bélico acirrado.
- A cavalhada transita pelo diálogo intercultural e inter-religioso, possibilitando a convivência agora pacífica e colaborativa das civilizações, que na Idade Média interagiram de forma antagônica. Hoje, é importante numa cultura cosmopolita valorizar a sua riqueza e diversidade. Amplia nas novas gerações um olhar de compreensão da dinâmica da formação das culturas e da sua complementariedade e influência mútua. Campos têm muito a aprender da matriz cultural-espiritual das cavalhadas que constitui
um bem civilizatório a cuidar e partilhar para viver no respeito e a tolerância as diferenças. – informa Dom Roberto Francisco
Cavalhada, que é um patrimônio imaterial do município e de grande valor cultural para a geração atual e para as gerações futuras. Na opinião do Diretor do Teatro de Bolso, Fernando Rossi compreensão deste patrimônio é importante para a sua preservação. Um legado de gerações que por séculos mantiveram a cavalhada como uma herança cultural que deve ser valorizada pelas novas gerações.
- A gente somente entende a importância cultural quando busca este conhecimento. É preciso reconhecer o esforço dos ascendentes que cuidaram de manter a tradição, bem como estes cavaleiros e capitães mouros e cristãos que ensinam a Cavalhada para seus filhos. Preservar a cultura do nosso povo é manter viva a história dos nossos municípios, do nosso Estado, da nossa gente. – ressalta Fernando Rossi.

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Fotos Genilson Pessanha (Folha da Manhã)

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO A MYANMAR E BANGLADESH (26 DE NOVEMBRO - 2 DE DEZEMBRO DE 2017)









ENCONTRO COM AS AUTORIDADES, COM A SOCIEDADE CIVIL E COM O CORPO DIPLOMÁTICO
DISCURSO DO SANTO PADRE
Palácio Presidencial (Daca)
Quinta-feira, 30 de novembro de 2017


Senhor Presidente,
Ilustres Autoridades de Estado e Civis,
Vossa Eminência, amados Irmãos no Episcopado,
Distintos membros do Corpo Diplomático,
Senhoras e Senhores!

No início da minha presença no Bangladesh, quero agradecer-lhe, Senhor Presidente, o amável convite para visitar esta nação e as suas deferentes palavras de boas-vindas. Seguindo as pegadas de dois dos meus Predecessores, o Papa Paulo VI e o Papa João Paulo II, estou aqui para rezar com os meus irmãos e irmãs católicos e oferecer-lhes uma mensagem de estima e encorajamento. O Bangladesh é um Estado jovem e todavia ocupou sempre um lugar especial no coração dos Papas, que desde o princípio expressaram solidariedade ao seu povo, procurando acompanhá-lo na superação das dificuldades iniciais e apoiando-o na tarefa exigente da construção da nação e do seu desenvolvimento. Agradeço a oportunidade de me dirigir a esta assembleia, que reúne homens e mulheres com responsabilidades especiais na tarefa de dar forma ao futuro da sociedade do Bangladesh.
Durante o voo para chegar aqui, foi-me lembrado que o Bangladesh – «Golden Bengal» – é uma nação interligada por uma vasta rede fluvial e por vias navegáveis, grandes e pequenas. Creio que esta beleza natural é emblemática da vossa particular identidade como povo. O Bangladesh é uma nação que se esforça por alcançar uma unidade de linguagem e cultura com o respeito pelas diferentes tradições e comunidades, que fluem como inúmeros ribeiros vindo enriquecer o grande curso da vida política e social do país.
No mundo de hoje, nenhuma comunidade, nação ou Estado pode sobreviver e progredir no isolamento. Como membros da única família humana, precisamos uns dos outros e estamos dependentes uns dos outros. O Presidente Sheikh Mujibur Rahma compreendeu e procurou incorporar este princípio na Constituição Nacional. Imaginou uma sociedade moderna, pluralista e inclusiva, onde cada pessoa e cada comunidade pudesse viver em liberdade, paz e segurança, respeitando a inata dignidade e igualdade de direitos de todos. O futuro desta jovem democracia e a saúde da sua vida política dependem essencialmente da fidelidade a esta visão fundadora. Com efeito, só através dum diálogo sincero e do respeito pelas legítimas diversidades é que um povo pode reconciliar as divisões, superar perspetivas unilaterais e reconhecer a validade de pontos de vista divergentes. Uma vez que o diálogo autêntico aposta no futuro, ele constrói unidade ao serviço do bem comum e está atento às necessidades de todos os cidadãos, especialmente dos pobres, dos desfavorecidos e daqueles que não têm voz.
Nos meses passados, pôde-se observar de maneira bem tangível o espírito de generosidade e solidariedade – sinais caraterísticos da sociedade do Bangladesh – no seu ímpeto humanitário a favor dos refugiados chegados em massa do Estado de Rakhine, proporcionando-lhes abrigo temporário e provisões para as necessidades primárias da vida. Isto foi conseguido à custa de não pouco sacrifício; e foi realizado também sob o olhar do mundo inteiro. Nenhum de nós pode deixar de estar consciente da gravidade da situação, do custo imenso exigido de sofrimentos humanos e das precárias condições de vida de tantos dos nossos irmãos e irmãs, a maioria dos quais são mulheres e crianças amontoados nos campos de refugiados. É necessário que a comunidade internacional implemente medidas resolutivas face a esta grave crise, não só trabalhando por resolver as questões políticas que levaram à massiva deslocação de pessoas, mas também prestando imediata assistência material ao Bangladesh no seu esforço por responder eficazmente às urgentes carências humanas.
Apesar da minha visita ser primariamente dirigida à Comunidade católica do Bangladesh, considero um momento privilegiado o meu encontro que terá lugar amanhã em Ramna com os Responsáveis ecuménicos e inter-religiosos. Juntos, rezaremos pela paz e reafirmaremos o nosso compromisso de trabalhar pela paz. O Bangladesh é conhecido pela harmonia que tradicionalmente existe entre os seguidores de várias religiões. Esta atmosfera de respeito mútuo e um clima crescente de diálogo inter-religioso permitem aos crentes expressar livremente as suas convicções mais profundas sobre o significado e a finalidade da vida. Assim podem contribuir para promover os valores espirituais que são a base segura para uma sociedade justa e pacífica. Num mundo onde muitas vezes a religião é – escandalosamente – usada para fomentar a divisão, revela-se ainda mais necessário um tal género de testemunho do seu poder de reconciliação e união. Isto manifestou-se de forma particularmente eloquente na reação comum de indignação que se seguiu ao brutal ataque terrorista do ano passado aqui em Daca e na mensagem clara enviada pelas autoridades religiosas da nação, segundo a qual o santíssimo nome de Deus não pode jamais ser invocado para justificar o ódio e a violência contra outros seres humanos, nossos semelhantes.
Embora em número relativamente reduzido, os católicos do Bangladesh procuram desempenhar um papel construtivo no desenvolvimento da nação, especialmente através das suas escolas, clínicas e dispensários. A Igreja aprecia a liberdade – de que beneficia toda a nação – de praticar a sua fé e realizar as suas obras sócio- caritativas, incluindo a de oferecer aos jovens, que representam o futuro da sociedade, uma educação de qualidade e um exercício de sãos valores éticos e humanos. Nas suas escolas, a Igreja procura promover uma cultura do encontro, que tornará os alunos capazes de assumir as suas próprias responsabilidades na vida da sociedade. Com efeito, nestas escolas, a grande maioria dos estudantes e muitos dos professores não são cristãos, mas provêm de outras tradições religiosas. Tenho a certeza de que a Comunidade católica, de acordo com a letra e o espírito da Constituição Nacional, continuará a gozar da liberdade de levar por diante estas boas obras como expressão do seu empenho a favor do bem comum.
Senhor Presidente, queridos amigos!
Agradeço a vossa atenção e asseguro-vos as minhas orações, para que, nas vossas nobres responsabilidades, sejais sempre inspirados pelos altos ideais de justiça e serviço aos vossos concidadãos. De bom grado invoco, sobre vós e sobre todo o povo do Bangladesh, as bênçãos divinas da harmonia e da paz.