sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Abertura do Processo de beatificação de Dona Lurdinha Fontão

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Um depoimento sobre a Serva de Deus D. Lourdinha Fontão
As reuniões e missas no Sitio Brejinho, onde eu morava, começaram por iniciativa de D. Lourdinha, que gostava de evangelizar. 
Como minha mãe fazia toalhas de frivoletê, e D. Lourdinha fazia questão de presentar as pessoas amigas com essas toalhinhas, ela se dispor a ir toda a semana em minha casa para rezar o terço e explicar o Evangelho. Eram as reuniões da Boa Nova.
Logo as missas começaram a ser celebradas pelo então recém ordenado Pe. Orani num rancho perto de minha casa. Era uma alegria preparar o local para as reuniões. Eu tinha escolhido o Pe. Orani como meu padrinho de crisma em 1975, mas como o superior da época achou melhor escolher um leigo, então escolhi o esposo da Lourdinha, pois ela também não podia na época, por ser mulher. 
Comecei a freqüentar a casa dela, onde a Palavra de Deus era sempre a meta. Era muito alegre e disposta. Dizia no início de cada prece da Oração dos Fiéis: "nós te louvamos Jesus e Maria..."; "pelas mães que esperam um filho, pelas mães que desejam um filho...."
Eu nem sabia o que era monge e foi a D. Lourdinha quem me levou a primeira vez ao mosteiro, que ficava a menos de uma quadra das casas de minha avó e tias. Ela também morava há duas quadras do mosteiro.
Comecei a passar os fins de semana com os monges cistercienses. Havia Encontros Vocacionais. Ela chamava carinhosamente os vocacionados e formandos do mosteiro de "meninos do Brasil".
Devo muito à Lourdinha, pois sei que ela me rezou muito pela minha vocação. Até hoje quando estou com sérias dificuldades para resolver vou junto do seu túmulo na Igreja Nossa Senhora de Loreto e peço uma graça. De uma forma ou de outra tudo se encaminha. 
Ela dizia que "para Deus não há coincidência mas Providência".
Ela amou muito a Igreja, a Paróquia e o Mosteiro, e percebo que até hoje intercede por nós. 
Ela procurou fazer da sua familia uma Igreja para que a Igreja fosse uma Familia.
Recordo que em momentos difíceis de minha familia, como a bebida de meu pai, ela sempre dava uma palavra de reconciliação.
Muitos vestidos que minha mãe chegou a usar, foram da Lourdinha, e isso era motivo de honra para minha mãe.
Minha mãe quase todos os dias ou ao menos aos domingos escrevia numa lousa dada pela D. Lourdinha uma frase do Evangelho ou de edificação. Esta lousa ficava na sala de jantar de casa. Um belo quadro da Santa Ceia com moldura de galhos de jaboticabeira que estava nesta sala também era da própria casa da Lourdinha.
A primeira árvore de Natal de minha casa foi a que ela montou numa missa no pátio da cadeia pública celebrada pelo então Pe. Orani. Ela mostrava e vendia os trabalhos artesanais feitos pelos detentos, como canetas, chaveiros, etc.
Os comentários que ela fazia nas missas eram longos, mas sempre no sentido de acolher, animar, chamar á conversão.
Nos aniversários de Dom Orani a Lourdinha enfeitava a estante da Palavra com a flor de São João, que cresce e floresce nos barrancos secos na época do seu natalício, 23 de junho.
Lembro-me que ela arrumava tempo para tudo. Aos sábados, quando ia na sua casa, ela cozinhava, atendia o telefone, colocava a mesa, atendia a porta, tudo com muito gosto. A porta de sua casa estava sempre encostada. Quando alguém chegava ela já ia dizendo: "vai entrando". A mesa redonda estava sempre bem montada, também com bolos e doces.
O relacionamento dela com a familia foi sempre harmonioso. Ainda que saísse muito para as pastorais, o esposo Dr. Heber e os filhos sabiam que ela estava servindo a Deus no próximo. O marido gostava de rádio amador e foi um dos primeiros na cidade a filmar as Semanas da Familia, ordenações. Tudo incentivado por ela.
A Lourdinha fazia junto com o Pe. Orani o "Programa Sinal Verde para você", na Rádio Difusora aos sábados de manhã. Explicava o Evangelho, convidava para os bazares, lia a Palavra de Vida do mês. Depois que ela foi à Itália e viu em Loreto a Madre Teresa de Calcutá, que foi a Lopiano, do Focolare, divulgou com maior entusiasmo o carisma da unidade, a espiritualidade de “Jesus Abandonado”,” Jesus no meio”.
Ela tratava com muita atenção católicos, evangélicos e ateus. Também para eles pedia contribuição mostrando que suas ações pastorais não tinham limites, e que todos podiam ajudar.
Nunca ouvi uma palavra imprópria de sua boca. Mesmo os fatos difíceis eram apresentados com objetividade, mas com sinal de esperança, de uma solução favorável.
Ela tinha uma caligrafia tão bonita. Escrevia nos verso dos santinhos ou marca-páginas os comentários das leituras e as preces, de modo que dava oportunidade para outros lerem nas missas.
Quando chegava já ia falando tudo de uma vez, com um sorriso que quebrava qualquer clima de frieza: "bom dia, boa tarde e boa noite, como vai compadre/comadre?"
Muitos agentes de pastoral que estão em plena atividade na Paróquia ainda hoje dizem que tiveram algo com ela, que convidou a participar da Igreja, que ganhou um livro ou um rosário dela, que pediu que ela rezasse por uma intenção especial.
Conheci nestes últimos meses boa parte de suas agendas, que minuciosamente registram os fatos de cada dia. Não sei como ela arrumava tempo para tanta coisa. Para a maior glória de Deus e não dela, deixou como herança espiritual para seus filhos esses relatos que mostram o essencial na vida dela: dizia que se levantava, rezava, fazia o café, abria a Igreja, rezava o terço com as pessoas, participava da missa, saia para levar a comunhão aos doentes, voltava para casa e seguia sei ritmo normal como mãe de família cristã. Nesses relatos colocava tanta coisa: problemas mundiais, situação política que País estava vivendo, noticias da Igreja em geral, Diocese, Paróquia e Mosteiro. São dezenas de diários, um para cada ano, verdadeira reconstituição dos acontecimentos históricos à luz da fé.
Ela assinava o jornal L' Osservatore Romano. Quantas vezes, me lembro, que ela levava esse jornal e lia nas reuniões, para que as pessoas desfrutassem das noticias e doutrinas da Igreja.
A Lourdinha foi defensora da vida. Teve muitos filhos, sofreu por dois abortos espontâneos. Sempre rezava assim: "pelas mães que esperam um filho, pelas mães que desejam um filho".
Na cidade até hoje é comum as pessoas acrescentarem a cada mistério do rosário a jaculatória por ela muito difundida: "meu Deus, eu creio, adoro e vos amo..."
Nestes últimos tempos um filho começou a digitar suas cartas e mensagens, bens como depoimentos e artigos de jornal dela ou sobre ela. Notei que ela tinha um relacionamento com todo o tipo de pessoas. Temos respostas do papa através de várias cartas da Secretaria de Estado do Vaticano, de cardeais, bispos, padres, religiosos e religiosas, destacando a de muitos monges. Ela escrevia para políticos, empresários, ricos e pobres.
Organizava com Mons. Denizar Coelho e Pe. Orani a Semana da Familia na cidade, fazendo questão de hospedar em sua casa os palestrantes, como Pe. João Mohanna, Pe. Antônio Maria, Pe. Heber Salvador de Lima, entre outros que me lembro agora.
Sua Páscoa foi um susto mas certamente ela intercedeu para que outras pessoas fossem surgindo, cada uma com seu carisma próprio.
O Livro de Tombo da Paróquia São Roque, desde 1968 (ano da criação desta segunda Paróquia da cidade) foi feito cuidadosamente por ela até um dia antes de sua viagem para a Mariápolis em Aparecida em 1988, dias antes de sua morte.
O velório da Lourdinha foi algo de impressionante. milhares de pessoas passaram pelo seu corpo de dia e de noite. Padres rezaram missas de hora em hora, até de madrugada. Dom Tomás Vaquero, Bispo Diocesano, com o qual ela tinha se confessado em Aparecida antes do acidente, era muito amigo dela. Logo ao saber da noticia de sua morte, quis que ela fosse sepultada no presbitério da Igreja Nossa Senhora de Loreto, por ela construída, no Jardim Aeroporto.
Dom Tomás já era idoso mas participou de toda a procissão que saiu da Matriz São Roque até o Loreto, indo a pé por todo o percurso. A missa de exéquias precisou ser campal, pois eram centenas de pessoas presentes. O corpo dela estava dentro da Igreja e se faz uma fila enorme de pessoas para prestar sua última homenagem. Elas entravam por uma porta, costeavam por um cordão de isolamento seu caixão e tinham que sair por outra porta, de tanta gente que estava presente. Os que estavam organizando esta fila precisavam pedir para as pessoas não demorarem, pois ainda pessoas, às centenas, esperavam fora da Igreja para entrarem.
O clima da Comunidade neste última missa celebrada pelo Sr. Bispo era uma mistura de tristeza pela partida mas de alegria pela obra de Deus na vida dela.
Até hoje nesta Igreja, nas missas, se coloca intenções por ela, para que junto de Deus goze da alegria dos justos.
A ausência física da Lourdinha é recompensada pela sensação de que ela junto do Senhor está ainda mais próxima de nós. Isto se comprova com tantos fatos bonitos que aconteceram na Paróquia e no Mosteiro. O Mosteiro começou a ser ampliado, vocações foram chegando, a ponto de monges foram nomeados bispos, um deles inclusive cardeal. A Paróquia foi intensificando sua atuação pastoral.
Na cidade, logo depois de sua páscoa, com a grande comoção popular, foram tomadas muitas iniciativas: artigos de jornal e até uma escola tomou o nome dela como patrona.
A frase que está cunhada em sua lápide é muito significativa, pois foi dada a ela por Chiara Lubich, fundadora do Movimentos dos Focolares.

Que esta possibilidade do Processo de Beatificação e Canonização da Serva de Deus Dona Lourdinha ajude a todos no caminho da vocação universal à santidade.
Na nossa Diocese já temos dois Servos de Deus: um sacerdote (Pe. Donizete) e um religioso (Ir. Roberto), embora não tenham nascido na Diocese. Já a Dona Lordinha é uma leiga, uma mulher, mãe de família, que nasceu no território atual da Diocese, o que muito alegra a Igreja de Deus.
Com isso não queremos idolatrar ninguém, mas apenas possibilitar que sua vida simples e normal seja incentivo para que um número maior de pessoas possam reconhecer o Senhor Jesus Cristo.
Uma Associação Pró-Beatificação está sendo montada. A seu tempo o corpo da Serva de Deus deverá ser exumado e, com procedimentos feitos por peritos do Vaticano, será colocado num sarcófago.
Um Tribunal Diocesano será instituído para que tudo conforme a praxe da Congregação da Causa dos Santos seu processo seja documentado e avaliado.
Depoimentos serão colhidos. Temos muitas pessoas, sobretudo idosas, que já fizeram por escrito. Todas as suas agendas, diários, artigos de jornal, programas radiofônicos, cartas, mensagens deverão ser digitados para posterior verificação e julgamento do Tribunal Diocesano e encaminhamento para a Santa Sé.

Rezemos para que, se for da vontade Deus, tudo se encaminhe bem nas várias etapas a serem cumpridas.

2 comentários:

  1. Deus seja louvado, por termos perto dedr nós uma prima que na humildade de seu trabalho nos encoraja a caminhar com Nosso Senhor amando nosso próximo.

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